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sexta-feira, março 31, 2006


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"Chegando a este sítio vêem, com admiração, subir a Senhora pela rocha."

Azulejo do interior da Ermida da Memória, alusivo à lenda da Pedra da Mua, segundo a qual um velho de Alcabideche e uma velha da Caparica viram Nossa Senhora subir a arriba montada numa mula.

quinta-feira, março 30, 2006


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Edifício localizado ao cimo da Rua Dr. Manuel de Arriaga, construído como fábrica de conservas, popularmente conhecida como "Fábrica do Burro", onde laborou a empresa "Nero & Compª. Sucr. Lda"; ali se fabricou a conserva da marca "Catraio".

Foi posteriormente utilizado para lojas de companha, situação que se verificava na data desta fotografia, de finais dos anos 70. Foi depois demolido para dar lugar a um prédio de apartamentos. (Mapa de localização)

quarta-feira, março 29, 2006


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terça-feira, março 28, 2006


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Queimada na Maçã

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Próximo da linha de água que tem início na Maçã já se construíu uma bomba de gasolina. Agora desmata-se e queima-se uma grande área, provavelmente para criar "espaço" para mais um grande loteamento urbano. É a cidade da Maçã a crescer. [Fotografias desta manhã.]

segunda-feira, março 27, 2006

Assimetrias


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Alguns edifícios em estilo neoclássico apresentam as suas janelas com frontões alternadamente triangulares e semicirculares. É o caso do Palácio em Laterno, do Palácio Hercolani, em Bolonha, e do Palácio de S. Bento, em Lisboa. Desconheço qual o objectivo desta solução, mas talvez se destinasse a quebrar a monotonia provocada pela repetição, em fachadas longas, do mesmo modelo de janela.

Em Sesimbra podemos não ter palácios neoclássicos, mas este modesto edifício da Rua Cândido dos Reis, prestes a terminar os seus dias, apesar de ter apenas duas janelas, não deixou, por isso, de procurar a variedade da solução neoclássica. Ficou um tanto assimétrico, mas não o podem acusar de ser monótono.

Outra curiosidade deste edifício são as molduras das portas e janelas, que habitualmente são rectangulares mas que aqui têm forma trapezoidal, acontecendo o mesmo com as cantarias verticais — e para isto é que não encontrei nenhum equivalente palaciano.

Neste edifício, em cuja fachada já foi afixado o aviso oficial de uma nova construção, funcionou, durante muitos anos, uma empresa de transporte de mercadorias e estafeta. Numa altura em que a Rua Cândido dos Reis tinha trânsito nos dois sentidos e muita circulação de camionetas de peixe e transporte público, a movimentação gerada por este edifício — nomeadamente as manobras de descarga e de entrada e saída de camionetas — era uma constante fonte de animação para os rapazes pequenos.

domingo, março 26, 2006

Pequeno arbusto


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A inclinação do terreno e das plantas sugere que a fotografia ficou torta, mas não ficou: ali, junto à estrada que sobe de Sesimbra para a Achada, a encosta é exactamente assim, inclinada para o magnífico mar de Sesimbra.

O pequeno arbusto avermelhado, provavelmente morto devido ao frio recente, destaca-se nas cores frias da encosta.

sábado, março 25, 2006

Sol de Sesimbra

Brian Hughes

O guitarrista de jazz Brian Hughes publicou, em 1995, o disco Straight to You, onde se inclui a faixa Sesimbra Sun. O próprio explica assim a origem do tema:

«Há alguns anos atrás, durante uma tourné pela Europa com Loreena McKennitt, tivémos uma semana livre, por alturas da Páscoa, durante a qual ficámos alojados numa bela estalagem chamada Quinta das Torres, a cerca de 11 km de Sesimbra. Tivémos muitas oportunidades para visitar Sesimbra, para passear na praia durante o dia ou descansar depois do jantar, num café. Tenho muitas boas recordações e espero lá voltar em breve.»

Trecho da música:
Windows Media
Real Audio
outro trecho
ArtistDirect
Página oficial de Brian Hughes

Arco incógnito


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 Sei o que são arcos românicos, góticos, circulares, elípticos, em rampa, ogivais, de ferradura, trilobados e flamejantes, mas este aqui... escapa-me completamente.

À primeira vista pode parecer triangular, mas faz ali uma subtil curvatura que dificulta tal classificação. Terei de pedir ao Pedro Martins que me ajude neste enigma sesimbrense.

sexta-feira, março 24, 2006

Visitas... visitas...


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     “Visitas, visitas, há muitas visitas,
     Que enchem os sonhos, os meus e os teus.
     São endiabradas e muito animadas,
     Depois vão-se embora sem dizer adeus.

Rezava assim uma conhecida canção. Afinal, quem é que nos visita? Existem na internet diversos serviços gratuitos que fazem a contagem das visitas às páginas. Estes contadores não oferecem grande rigor, o que pode ser comprovado pelo facto de, para uma mesma página, nunca coincidirem os números dos diferentes contadores.

Por outro lado, o facto de um contador indicar 50 ou 100 visitantes num dia, não significa que tenha sido esse o número de pessoas que a consultou: há visitantes que voltam mais do que uma vez, por exemplo, e estas "re-visitas" variam de página para página, sendo provavelmente mais numerosas nas páginas com muitos comentários.

Os contadores de visitas da internet devem, por isso, ser lidos com as devidas cautelas. No entanto, podem indicar, com alguma segurança, as tendências: se as visitas estão a aumentar ou a diminuir, quais os dias da semana, ou meses do ano, em que há mais visitas, etc.

Aqui usamos dois contadores: o Webstats4u e, mais recentemente, o Sitemeter. O primeiro apresenta números sistematicamente maiores do que o segundo mas são coerentes no resto, pois as oscilações diárias, semais, etc., coincidem em ambos os contadores.

Na imagem de cima [clicar] vê-se o gráfico do número de visitas por semana, apuradas pelo Webstats4u. A semana com mais visitas (ultrapassando as mil) correspondeu ao Carnaval e à publicação de fotografias dos desfiles de Sesimbra. No conjunto das 28 semanas referidas, a média por semana foi de 379, ou seja: 54 visitas por dia. Se considerarmos apenas as semanas de 2006, a média semanal subiu para 559 visitas (80 por dia).

O contador do Sitemeter é mais recente e, como referimos, apresenta valores sistematicamente mais baixos. Como se pode ver pelo gráfico [clicar], o número máximo de visitas diárias foi de pouco mais de 90, sendo a média de cerca de 72 visitas diárias.

Uma última nota sobre as páginas de referências, que identificam quais as páginas que efectuaram ligações [links] para a nossa. Costumamos utilizar o Technorati, podendo ver-se a lista de referências do blogue Sesimbra aqui.

Mar da Babilónia


Não gosto do edifício que pomposamente se auto-designou "Mar da Califórnia" (à semelhança das ruas, estas designações talvez devessem ter controlo público), mas também não me parece que o mar o vá engolir, como alguns anunciam. Relativamente à linha de maré, encontra-se até mais recuado do que o resto da vila.

Mas aquela obra, na minha opinião, foi um grande erro, por outras razões, que nunca vi referidas (o que há-de ter o seu significado). Por um lado, é mais um passo de gigante na transformação da vila num "mega" aldeamento turístico.

Por outro lado, a sua construção impediu a obra que ali deveria ter sido feita: o prolongamento da marginal até à fonte da Califórnia. Poderia até admitir-se alguma construção junto a essa marginal, mas ali deveria ter sido construído, essencialmente, espaço público, dotado de equipamentos públicos associados à fruição da praia, do mar e da paisagem.

Se contra-argumentarem que não havia verba (pública) para isso, então teremos de concluir que se privatizou potencial espaço público a troco de verba. Dir-se-ia que "no princípio era a verba". Resta saber como será no fim.


Notas:
  • Este texto, com pequenas modificações, foi escrito recentemente como comentário a uma entrada do blogue 'Sesimbra e Ventos'.

  • A imagem de cima, detalhe da fotografia promocional que aparece na página do Sesimbra Hotel & Spa, configura uma distorção propagandística da realidade, fazendo sobressair uma construção babilónica, que ainda não existe tal como é apresentada, tranformando-se o resto da vila num halo enevoado de glorificação ao monstro. A imagem original pode ser vista aqui.

  • quinta-feira, março 23, 2006

    Fogo e água


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    Nas velhas calçadas que as fogueiras dos santos populares oxidaram e estilhaçaram, é a vez da água deixar a sua marca através das plantas. A humanidade e a natureza: uma eterna guerra.

    Kazmer Féjer



    Escultor. Nasceu em Pecs, Hungria, em 1923
    Faleceu em Sesimbra, em 1989

    Kazmer Féjer rompeu com a escultura tradicional ao abandonar o conceito de volume. A obra é percebida pela relação entre os cheios e vazios no espaço. As suas construções são marcadas pelos materiais utilizados - acrílicos -, difusores de luz pela sua transparência, e também pela estrutura erguida, que congela a instabilidade dos planos entreabertos e suspensos no ar.

    Escultura em cristal, 1958A sua formação começou em Budapeste, onde estudou química industrial, ao mesmo tempo em que cursava a Academia de Belas-Artes. Fez pintura não-figurativa, cada vez mais geométrica, até atingir mais tarde o tridimensional. Após este período, foi para Montevidéu, no Uruguai, onde viveu um ano e meio.
    Por intermédio do Art Club, conheceu Waldemar Cordeiro, que o convidou a expor em São Paulo, em 1949. Em 1951, Féjer expôs na I Bienal de São Paulo. Um mês depois, co-fundou o Grupo Ruptura, de arte concreta, com o qual se reunia regularmente para discutir novas questões artísticas. Trabalhou também como químico industrial em cerâmica e material plástico. Mudou-se para Paris em 1970, onde trabalhou em indústria de tintas. Na década de 1980 transferiu-se para Portugal, onde organizou uma empresa de extração de produtos do mar.
    (Adaptado de Ruptura)

    quarta-feira, março 22, 2006


    Já se encontra disponível para escuta na internet a rádio Sesimbra FM. Os nossos parabéns à Sesimbra FM por mais esta evolução técnica que a torna audível em qualquer parte do mundo onde chegue a internet.

    mms://stream.radio.com.pt/ROLI-ENC-125


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    terça-feira, março 21, 2006

    Azedas


    Azedas da Mata
    Bombeiros, Jacob,
    seiva que renova
    o tempo que passa
    e o tempo não morre

    Elixir amargo
    poção infantil
    impulso febril de
    escorregar no barro
    balouçar nos ramos

    Caracóis boianos
    nas manhãs de chuva
    ilusões e planos
    de que nada muda
    no devir dos anos

    Azedas da Mata,
    mistério, substância,
    acidez amarga
    que cura e que trata
    desgostos de infância.


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    Escalada na costa de Sesimbra. (Crédito: Arrumário)

    segunda-feira, março 20, 2006


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    Quinta do Conde, 19 de Março de 2006

    Ilse Losa


          Ilse Losa




    «Gosto de observar Teresa a corrigir os cadernos escolares à luz do candeeiro. Sempre que os disparatados erros dos seus pequenos alunos a fazem sorrir, ela inclina a cabeça sobre o ombro, as pálpebras descem-se-lhe ligeiramente e o rosto ganha uma graça meiga e quente. Talvez no conceito geral Teresa não seja uma mulher bonita: tem feições pouco regulares, a boca muito carnuda, o nariz comprido demais e quando lhe estremecem as narinas faz lembrar um coelhinho. Mas tudo isso se harmoniza com o corpo esbelto de porte direito, com o pescoço alto, a cabeça estreita, o cabelo dum negro brilhante e espesso que ultimamente junta num puxo arrepanhado na nuca.

    «Teresa dá aulas na escola primária duma zona pobre, num edifício velho, quase a cair, onde largas frinchas por debaixo das portas e das janelas provocam constantes correntes de ar. Se ao princípio manifestara entusiasmo pelo curso, embora apenas o tirasse porque Severino achava ser o curso que levava menos tempo, ficava barato e proporcionava rapidamente o ganha-pão, pouco a pouco foi ficando desiludida.

    «"As colegas mais velhas batem naquelas pobres crianças a torto e a direito", diz. "Eu só me resolvo a bater-lhes, mas apenas nas mãos, se me aparecem com as orelhas sujas ou piolhos na cabeça depois de as ter repreendido repetidas vezes". Por vezes ela chega desanimada a casa, dizendo não suportar por muito mais tempo o ensino a crianças que, de tão carecidas de carinho e de alimentação, nem conseguem prestar atenção às suas explicações. E começamos a fazer planos para uma livraria, num bairro afastado do centro e de como haveremos de juntar o dinheiro para isso. Teresa ajudar-me-á na arrumação dos livros, no balcão, na caixa.

    «Dentro de dois ou três anos começaremos a editar uma colecção de livros de pequeno formato, de preço módico, mas de muita qualidade. E havemos de contratar óptimos tradutores para os livros estrangeiros, apresentar capas de bom gosto, havemos de nos prestigiar para progredir depressa, poder dispensar a loja e dedicar-nos exclusivamente às edições. E Teresa gostaria de organizar uma colecção para crianças, com gravuras coloridas, e sempre que estamos com o Renato aconselha-se com ele sobre o assunto... Planos, planos, planos... E depois tudo continua na mesma, Teresa a tentar ensinar as crianças cheias de fome e piolhos e eu a traduzir cartas comerciais a troco de remuneração mais ou menos razoável e livros de ficção por remuneração humilhante, porque o comércio governa e a literatura vegeta. »

    Ilse Losa
    "Sob Céus Estranhos", Ed. Afrontamento


    Escritora portuguesa de origem alemã, nascida em Bauer, cidade alemã próxima de Hanôver, a 20 de Março de 1913. Tinha ascendência judia e veio para Portugal em 1934, fugindo à perseguição nazi. É conhecida principalmente pelos seus livros para crianças e pelo seu livro sobre as memórias das perseguições aos judeus com o título "O Mundo em que vivi” (1943). Recebeu, em 1991 o Grande Prémio de Livros para Crianças atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian. Outros livros conhecidos desta escritora são "Um Fidalgo de Pernas Curtas" e "Contos de Eva Luna." Faleceu a 6 de Janeiro de 2006.

    Blogologia

    Segundo a Wikipédia, um blogue é um "registo publicado na Internet relativo a algum assunto organizado cronologicamente - como um histórico ou diário".

    Existe uma grande variedade de blogues, que podem ir desde simples registos da vida pessoal do dia a dia (do tipo: "hoje acordei bem-disposta e o meu gato também"), até comentários políticos e filosóficos muito elaborados, mas uns e outros traduzem sempre um ponto de vista pessoal. O que é constante nos blogues, para além da sua estrutura cronológica, é essa natureza subjectiva. Pode até acontecer que se noticiem nos blogues acontecimentos de grande actualidade, mas tanto a selecção dos eventos como o seu tratamento, aproxima-os mais da crónica de opinião do que do jornalismo. Uma outra definição de blogues poderia ser: diários públicos interactivos(*).

    Os blogues possuem, no entanto, dois aspectos que os tornam muito diferentes dos "diários pessoais": (1) a sua disponibilidade pública imediata, e (2) a possibilidade, também imediata, dos leitores acrescentarem os seus comentários às entradas, e subsequente diálogo com os autores das entradas ou entre comentadores. No entanto, nem todos os blogues oferecem a possibilidade de se fazerem comentários, nomeadamente porque essa opção é às vezes utilizada por anónimos para observações ofensivas e caluniosas. Foi por este motivo que o blogue Causa Nossa, por exemplo, inicialmente muito comentado, optou por retirar a hipótese de comentários.

    Outra das pragas que ataca os blogues são as mensagens publicitárias, ou "lixo virtual", que invadem e atafulham as caixas de comentários. Um blogue pode estar muito tempo ao abrigo destes ataques, mas quando eles começam, passam a invadir os comentários várias vezes ao dia. Uma medida intermédia contra estes ataques é a de possibilitar comentários mas que só são publicados depois de vistos pelo administrador do blogue [como acontece neste mesmo blogue]. O resultado é o mesmo, com a diferença de que os autores de comentários insultuosos ou caluniosos passam a evitar escrever coisas que sabem ter pouca probabilidade de ser publicadas.

    Fazendo um intenso recurso à tecnologia informática, abundam neste meio os estrangeirismos, mas é possível aproximar a sua terminologia própria à língua portuguesa, quer "aportuguesando" as palavras ("blogue em vez de "blog", blogosfera em vez de "blogosphere", por exemplo) ou utilizando os equivalentes em português:
  • entrada em vez de "post"
  • em linha em vez de "on line"
  • ligação em vez de "link"

    Dada a variedade de blogues, é possível agrupá-los por categorias, tais como: política, economia, ensino, arqueologia, poesia, etç. Uma das categorias mais interessantes é a dos "blogues de lugares". Eis alguns exemplos:

  • "O melhor do Gerês" - "partilhar momentos de lazer na natureza...com respeito."
  • "Monsaraz" - "olhares de um habitual visitante sobre a Vila de Monsaraz."
  • "Alto da Praça", de Borba.
  • "Mais Évora" -“...prometo de vos servir e dizer o pouco que souber, e logo vos hei-de dizer as cousas que sei bem sabidas e as em que tenho dúvidas, com juramento de falar muita verdade.” [citação de Garcia de Orta]
  • "Judeus em terras de Algodres" - "estudar e investigar a presença Hebraica pelas Terras de Algodres, hoje concelho de Fornos de Algodres."
  • "Aveiro Sempre" - "debater democraticamente a Cidade dos Canais."
  • "Ruas da minha terra - "Porto" - fotos e um pouco de texto sobre algumas ruas da cidade do Porto."
  • "Prairie point", onde um casal do Texas - Bill e Tricia - escrevem e publicam fotografias do seu próprio jardim e da sua casa.
  • "Mulubimba Moments", dedicado à região de Newcastle, na Austrália.
  • "London and the North", reflexões de alguém que faz habitualmente a ligação entre Londres e uma aldeia do Yorkshire, comentando acerca dos contrastes entre o mundo urbano e o mundo rural.
  • "Bowen island Journal" - "um amontoado de rochas, com 20 milhas quadradas, situado a duas milhas da costa ocidental do Canadá, que abriga 3 mil pessoas, 3 montanhas, 2 vales, 4 lagos, cerca de 15 praias, 2 espécies de salmão, uma aldeia, o autor e a família."

    Um projecto muito curioso é o "The Blog of Henry David Thoreau", especialmente se tivermos em consideração que o autor faleceu em 1842... O que o verdadeiro autor do blogue faz é reproduzir, em dias homónimos, apontamentos diários que Thoreau fez há muitas décadas. Henry David Thoreau é frequentemente citado pelos defensores do "Estado mínimo", por causa do seu livro "Da Desobediência Civil", onde defende que o Estado deve intervir o menos possível nas nossas vidas, mas distinguiu-se também pelo amor à Terra e à Natureza, advogando o regresso da humanidade a uma vida mais simples.


    (*) é verdade que existem páginas apresentadas como blogues que se afastam deste conteúdo,como é o caso de páginas de publicidade a empresas, sem actualização regular; mas trata-se de excepções que não alteram a natureza essencial dos blogues. Essas páginas acabarão por não ter leitores regulares. Não seria o facto de alguém utilizar uma cadeira para arrombar uma porta que nos levaria a acrescentar essa funcionalidade ao conceito de cadeira.

  • domingo, março 19, 2006

    Amores do Cabo Espichel


         «Assim D. Fernando de Almada a viu, e deste modo se cativou dos seus encantos, pela primeira vez que a viu. Foi no sítio do Cabo. Maria dos Remédios desejara acompanhar o círio, que levava ao Espichel gente de Sesimbra, Azeitão, Setúbal e Lisboa — além das pessoas da corte que deviam aguardar no Sítio a Família Real. No Cabo, barracas de campanha do exército e tendas de vendedores formavam buliçosos e pitorescos arruamentos, que se estendiam até à porta da igreja, ornamentada de ricos brocados e damascos. O cortejo era luzido: cavalgadas, carros alegóricos, músicas, danças, coches, — e o prior de Belas no último, com o círio, fazendo a guarda de honra a infantaria de Setúbal. Em dois dias que o círio demorava no Espichel, as solenidades e os divertimentos não tinham interrupção; havia de manhã as missas, à tarde cavalhadas e jogos de canas, seguidamente tourada, com lide e morte de vários touros; e à noite continuava a festa com arraial e fogo de artifício, preso e solto, prolongando-se os divertimentos até que o Sol rompesse.
         «De tanto ouvir encarecer a magnificência dos festejos, Maria dos Remédios pediu ao pai que também a família, naquele ano, acompanhasse o círio da Senhora do Cabo. Acedeu Tobias Botelho de Andrade, sem presumir que no Cabo Espichel a filha mais velha iria encontrar a metade que lhe faltava no coração.
         «D. Fernando de Almada foi dos fidalgos que lidaram e mataram touros a cavalo, nas duas touradas a que Maria dos Remédios assistiu; a galhardia do cavaleiro e a sua destreza nas sortes encantaram-na, — e só por discrição lhe não atirou as rosas que levava no seio. Melhor galardão, porém, obteve D. Fernando de Almada: a luz, a doçura, os cuidados daqueles olhos formosos, que não o abandonavam, antes o protegiam enquanto arriscava a vida diante dos touros! E quando pela primeira vez se falaram, no dia da procissão, último dos festejos — já os seus corações, por secreta correspondência, se haviam reciprocamente entendido.»

    Aldeia Rica
    Romance de Augusto da Costa
    Parceria António Maria Pereira, 1948 (p.252-253)


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    sexta-feira, março 17, 2006


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    Rua D. Afonso Henriques, vista do Largo do Calvário.
    Uma teia de fios de electricidade de uma puxada para um edifício em construção, à esquerda, parece querer armadilhar a rua.

    quinta-feira, março 16, 2006

    Grande abada!


    Muda aos cinco, acaba aos dez,
    era assim que se jogava
    noutro tempo o futebol
    com equipa improvisada
    ao acaso do momento.
    Qualquer zona descampada
    era estádio e bancada
    e não tinha hora marcada.

    Sem juiz, fiscal de linha,
    nem apito ou bandeirinha,
    só bom-senso e canelada
    finta dura e sem dó
    a estratégia era gritada
    lá da frente por quem estava
    mais a jeito para o tento:
    "Passa aqui! Passa aqui, ó!"

    Mas se era entre seitas
    a partida acalorava
    e não era impunemente
    que se ia e ganhava
    em terreno inimigo.
    Quando o jogo terminava
    bem podias pôr-te a milhas
    ao abrigo da pedrada.

    Muda aos cinco, acaba aos dez,
    era assim que se jogava.

    Primeiro troféu


    27 de Dezembro de 2003 - 1º Torneio de Futebol Infantil do Grupo Desportivo de Sesimbra. Primeiro lugar para a equipa da Academia de Jorge Cadete, que disputou a final com a Escola Simão Sabrosa, vencendo por 1-0 - o primeiro título conquistado por aquela equipa e por aqueles miúdos.

    Memória


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    Fotografei esta quinta, entre Sampaio e a Maçã, há uns 20 anos, ou mais. Ainda respirava um ar bucólico, mas terras e casa já se encontravam abandonadas. Ou talvez não: por detrás da palmeira distingue-se o que poderia ser uma courela recentemente lavrada.

    A fotografia de baixo foi tirada hoje. Uma grande urbanização ocupa já a maior parte do solo, engolindo as ruínas que, recuperadas ou não, hão-de servir de "memória", ou melhor, hão-de servir para acalmar a nossa má consciência.



    Compare as edificações: antes e depois.

    quarta-feira, março 15, 2006

    Blogosfera

    Surgiu mais um blogue associado a Sesimbra: o Habeas Copus - Sesimbra, que ali promete "colocar fotos, programas de festas, entre outra coisas...", do bar em causa.

    Há um outro caso, equivalente, a que ainda não tínhamos feito referência directa, mas que já fazia parte da nossa lista de links, o Frango à Guia de Sesimbra.

    Trata-se de uma outra potencialidade dos blogues: promoção comercial, ao mesmo tempo que se dão notícias das comunidades associadas aos respectivos estabelecimentos.

    BTT


    Passeios em btt (bicicletas todo-o-terreno) - eis um desporto que está em crescimento na nossa região. Ainda no sábado passado, durante uma caminhada na Arrábida, encontrámos vários grupos de ciclistas pelos mesmos trilhos.

    A foto de cima é do blogue IceCream Factory, que escreve:
    «Passeios "A Borliu", é mesmo esta a designação dada a estes passeios com pessoal do forum BTT.

    «Foram aproximadamente 32 Kms na zona do cabo Espichel. Com inicio junto ao parque de campismo "Campimeco" que fica a 3 kms da Aldeia do Meco. Um domingo sem chuva, ao contrário dos dias anteriores veio mesmo a calhar. Foi um passeio magnifico, com situações bem engraçadas, um pequeno grupo comigo incluído que se perdeu várias vezes por causa do gps, algumas quedas, mas nada de grave. Avarias também não faltaram, mas em trilhos destes se elas não acontecessem era um verdadeiro milagre. quanto ao pessoal, apenas uma palavra: espectacular. Depois da chegada, o almocinho, perto da Aldeia do Meco, tamboril com natas, uma delícia.»

    terça-feira, março 14, 2006

    Construção e reparação naval


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    Os estaleiros de construção e reparação naval de Sesimbra, que continuam a utilizar as técnicas tradicionais, encontram-se actualmente em grande actividade. Quem se deslocar ali poderá observar em reparação, para além de barcos de madeira de Sesimbra e Sines, duas embarcações tradicionais do Sado: os galeões do sal "Pego do Altar" e "Amendoeira" (1). Quanto ao barco de ferro que resolveu vir aqui "nascer", lá continua a enferrujar, à espera de melhores dias.




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    (1) - Este barco afundou-se no rio Sado em Março de 2005. Depois de colocado a flutuar, esteve varado em Setúbal (ver foto) antes de vir para Sesimbra. Leia mais sobre a respectiva recuperação e reparação.

    Tribunal de Sesimbra

    Com o título "Juízes a falar para o boneco", o jornal Portugal Diário revela o mau funcionamento do sistema de videoconferência em tribunais portugueses: "É raríssimo conseguir ligação a outro tribunal", noutras vezes, "estamos mais de uma hora à espera de ligação e quando conseguimos, ou temos som sem imagem ou imagem sem som", segundo conta uma magistrada do Palácio da Justiça de Lisboa.

    Ora, entre os tribunais referidos na notícia como aqueles que mais se queixam das deficiências no sistema de videoconferência, encontra-se, precisamente, o Tribunal de Sesimbra.

    (Via blogue Idealista)

    segunda-feira, março 13, 2006

    Mata de Sesimbra em discussão


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    Segundo notícia do jornal Público, tem hoje início a discussão pública do Plano de Pormenor da Zona Sul da Mata de Sesimbra, discussão que se prolonga até ao dia 24 de Abril.

    Estão programadas 3 sessões nas seguintes datas e locais (sempre com início às 21 horas):
  • 24 de Março - Escola Básica nº 3 da Q. Conde 1
  • 7 de Abril - Centro Paroquial do Castelo, Corredoura
  • 21 de Abril - Auditório Conde Ferreira, em Sesimbra

    Recorde-se que o projecto designado como Mata de Sesimbra abrange a grande zona assinalada na imagem de cima, mas encontra-se dividido em duas grandes áreas, com promotores diferentes: a Zona Sul, que agora entra em discussão pública, cujo promotor é a empresa Pelicano, e que tem dado origem a um longo debate por causa da transmissão de direitos de construção, que estavam atribuídos à zona do Meco e passaram para a Mata;

    O projecto da Zona Norte da Mata de Sesimbra é promovido pela empresa Herdade da Apostiça.

    Este debate público é muito importante e é pena que não se possam debater os dois planos (Norte e Sul) ao mesmo tempo, pois parte da discussão só faz sentido considerando a Mata no seu conjunto. Na medida do possível iremos dando informações, através deste blogue, sobre o desenvolvimento deste debate.

    Informações para esta discussão pública encontram-se disponíveis na Internet no seguinte endereço:
    www.matadesesimbra.com.pt  

  • O mouro Cosme

    O blogue Random Precision, citando o «Diário da História de Portugal», de José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra, lista uma série de denúncias feitas à Inquisição, entre as quais se encontra esta:
    «Em 11 de Janeiro de 1557, Gonçalo Pereira denunciou o mouro Cosme, de Sesimbra, por ter dito que Nossa Senhora não era virgem.»
    Quer a existência de mouros entre a população portuguesa quer o ambiente de intolerância religiosa e espírito de denúncia, são factos históricos bem conhecidos dos portugueses. Se o primeiro mostra tolerância civilizacional, os outros dois revelam algumas das piores características do ser humano, agindo sozinho ou organizado. Eis pois um pequeno drama passado em Sesimbra, poucos anos antes da publicação dos Lusíadas (1572).

    domingo, março 12, 2006

    Entardecer em Sesimbra


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    Esta, sim, é Sesimbra.
    Fotografia de Maria Gomes

    Publicidade enganosa


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    Ao fazer uma busca na blogosfera pela palavra "Sesimbra", encontrei referência a um artigo da revista PREF (Preferences Magazine) que se reportaria a Sesimbra. O artigo referido, com fotografias de Ricardo Cruz, tem o título de "O marinheiro de Sesimbra", mas ressalta à vista que nenhuma das fotografias disponíveis (ver acima) é de Sesimbra. Assim, é caso para dizer: publicidade enganosa - não, obrigado!

    sexta-feira, março 10, 2006

    Mar


    Estive atento ao discurso de tomada de posse do novo presidente da República. Fiquei contente por ouvir Cavaco Silva afirmar que "É tempo de prestar ao mar uma nova atenção." A verdade é que, em todo o discurso, foi a única novidade relativamente aos temas que os políticos e o governo usualmente debitam. No entanto, quem ler os jornais de hoje e os comentários que fazem a este assunto, não encontrará qualquer referência a este tema.

    No ano passado, o governo português divulgou uma estratégia para o mar e os oceanos, na sequência do excelente trabalho realizado pela Comissão Estratégica dos Oceanos, cujo relatório pode ser consultado aqui: [parte 1][parte 2]. Recorde-se que esta Comissão era constituída por técnicos de grande qualidade, caso do seu coordenador Dr. Tiago Pitta e Cunha, e incluía uma pessoa ligada a Sesimbra: o Dr. Nuno Sanchez Lacasta.

    Dada a importância deste trabalho, é muito estranho que o actual governo não lhe tenha dado, até agora, especial atenção. Assisti há poucos dias a uma conferência dada pelo Dr. Tiago Pitta e Cunha no Instituto Superior de Economia, precisamente sobre a Economia do Mar, e ficou claro que continua tudo em banho-maria, apesar da União Europeia estar a apostar forte neste domínio. De que estará o nosso governo à espera? Oxalá que a sugestão do Presidente da República - que se reproduz a seguir - altere esta apatia.

    «Nesga de terra debruada de mar», assim qualificou Miguel Torga o nosso Portugal. É tempo de prestar ao mar uma nova atenção. A vasta área marítima sob jurisdição nacional, que nos posiciona como uma grande nação oceânica, ponte natural entre a Europa, a África e a América, encerra potencialidades económicas e um valor estratégico que não podemos ignorar. O mar, para além do seu significado histórico, constitui, para Portugal, uma enorme oportunidade.

    Duas faces

      
      
      
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    O blogue Agora blogo eu apresenta muitas e muito boas fotografias, algumas das quais de Sesimbra, revelando as duas faces da terra: o enquadramento natural e a "selva" urbana, mas sempre com a presença ou a marca humana.

    quinta-feira, março 09, 2006

    Distância



    Fotografia aérea de Sesimbra, já com alguns anitos. Podem ver-se, clicando nas fotos de baixo, alguns detalhes: as antigas instalações da lota, na doca (foto 1), os passadiços do Macorrilho e Alcatraz, a Pedrancha e o Monte dos Vendavais (foto 2), e um troço da vila desde o largo da Marinha até ao largo de Bombaldes (foto 3).

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    Sanica

    Durante muitos anos o Sanica teve a sua "clínica" de veterinário, ao cimo da rua Cândido dos Reis, frente à gigantesca empena dos Bombeiros, constituíu um mundo fantástico de exotismo, surpresas e emoções. O Sanica não tinha mãos a medir: passava por ali toda a sorte de animais, mas especialmente cavalos, burros e cães. Os burros paravam ali naturalmente, vindos à vila para transporte das frutas e verduras do campo. Os cães, nesse tempo, dominavam a vila, fosse com dono certo ou nas matilhas que cirandavam à procura de comida. Recordo-me particularmente dos galgos, sempre elegantes mesmo quando vadiavam.

    A loja do Sanica ficava então no topo da "mata", essa outra floresta de aventuras e clandestinidades infantis. Era uma localização bem à nossa mão - minha, do meu irmão e dos meus primos - próxima da oficina de serralharia que os nossos pais mantinham mais abaixo. Não havia nada que aquele homem, de fraca estatura e modos suaves, não soubesse fazer. Vê-lo medicar os animais, ao mesmo tempo que ia fazendo o diagnóstico e o "ponto da situação", como agora se usa dizer, valia cada minuto roubado às brincadeiras de então (e não eram assim tão poucas que o tempo sobrasse: carros de rolamentos, de cana, jogo das bolas de ferro, do paulito, das placas, corridas, futebol, seitas, etc.). Era como assistir a qualquer filme no salão do João Mota. Aliás, era melhor, pois ali ninguém nos barrava a entrada com perguntas descabidas sobre a idade e a cédula - embora, às vezes, as cenas fossem chocantes.


    Nota: escrevi esta entrada na suposição de que o senhor Sanica, veterinário, tinha falecido, mas foi o irmão. As minhas desculpas pela confusão. Agradeço ao comentador que prontamente me corrigiu o erro.

    Mais pinto que leão


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    O prédio da Rua da República conhecido como "Pinto Leão" foi, na época da sua construção, uma obra que chamou a atenção dos sesimbrenses, pela dimensão e demora da obra. Hoje quase não se destaca no meio do casario, apesar da estranha empena cega que oferece à Avenida da Liberdade, que creio dever-se ao facto desta via não estar então planeada, prevendo-se antes que outro prédio se encostaria ali.

    Seja como for é um prédio bonito, de formas equilibradas e elegantemente coberto de azulejos, com boa cantaria, enquadrando portas e janelas naquele estilo de moldura cruzada que se vê muito na vila. O tempo e falta de manutenção tem levado à queda de alguns azulejos, mas finalmente realizaram-se obras nas fachadas. Pois imagine-se: em lugar de se reporem os azulejos, atamancaram-se as falhas com uma argamassa qualquer (cimento?) pintada de um azul-qualquer-coisa, a fingir que "liga" com a cor dos azulejos. Será camuflado de guerra? Bom, só se for duma guerra ao bom gosto e bom senso.

    Veja-se, por exemplo, este detalhe: ainda se descobre um ou dois azulejos de um outro azul, que lá devem ter sido colocados durante uma reparação mais antiga. Ainda por restaurar está a placa toponímica da Rua Leão de Oliveira: esperemos que não o seja no mesmo estilo pós-moderno.

    Como é que é possível fazer uma coisa destas? Creio que a entidade fiscalizadora irá intervir, mas impressiona-me isto: como é que uma qualquer pessoa, proprietário ou operário que tenha engendrado o remendo, pode ter achado que se tratava de uma boa solução? Alguém faria isto na própria casa, ainda que fosse a remendar uma parede interior? Compreende-se que se pretende travar a queda dos azulejos, mas, a não ser que se trate de uma solução provisória, fica muito mal.

    Ele até pode ser o prédio do "Pinto Leão", mas, pintado daquela maneira, está mais para o pinto do que para o leão. Dir-se-ia, com ironia, que é mesmo uma grande "pintarola"!

    Adenda: li algures que a reparação feita na fachada deste prédio é provisória e apenas para evitar que caiam mais azulejos. Então não se compreende porque é que não fizeram tudo de uma vez. Mais tarde vão voltar a instalar os andaimes, para retirar a argamassa agora aplicada e depois colocar os azulejos em falta? Dessa forma, não ficará tudo muito mais complicado e dispendioso? E será mesmo assim? Aguardemos.

    quarta-feira, março 08, 2006

    Almerinda Rosa Correia

    Almerinda Rosa Correia Assinalamos o dia 8 de Março, Dia da Mulher, relembrando a vida de Almerinda Rosa Correia, a quem já tínhamos feito referência aqui.

    Às 11 horas do dia 9 de Março de 1920, no nº 24 da Rua Coronel Barreto, em Sesimbra, nascia Almerinda Rosa Dias Carreira, que se viria a notabilizar, a partir dos anos 40 do século XX, como desportista em Almada. Mas naquele dia quem surgia ao mundo era a filha de uma modesta família que morava nos fundos de uma taberna, praticamente localizada no largo do Município - na casa onde hoje se encontra o restaurante "O Município". O pai de Almerinda, Domingos Carreira, era um jovem de 27 anos, natural de Idanha a Nova, que a profissão de Guarda Fiscal trouxera para Sesimbra. A mãe, pelo contrário, era uma genuína pexita de 24 anos: Ana Maria Rosa, filha de Manuel e Joaquina Casimiro Rosa. Serviram de testemunhas ao registo de nascimento um empregado dos faróis, Abel Ribeiro, e sua mulher Maria.

    Alguns anos mais tarde a família de Almerinda muda-se para Almada, vila onde a jovem conhecerá aquele que virá a ser o seu marido, Romeu Correia, natural de Cacilhas, conhecido escritor da corrente neo-realista.

    Almerinda Rosa Correia e Romeu CorreiaEpisódios da vida do jovem casal acabaram por ficar registados nas obras de Romeu Correia, que recorria com frequência a aspectos da sua vida que incorporava nos seus livros. Entre estas obras destaca-se, com especial interesse para Sesimbra, o romance "Trapo Azul", publicado em 1947. É precisamente a história da família de um guarda-fiscal que vive em Sesimbra e que mais tarde se muda para Almada. A principal personagem do romance, Laurinda, sem dúvida deve ter sido inspirada em Almerinda, pois ambas tiveram mais tarde a profissão de costureira – trabalhando na confecção nos fatos-de-macaco de ganga usados pelo operariado dessa época – o "trapo azul" que dá nome ao romance.

    Uma boa parte do romance "Trapo Azul" passa-se em Sesimbra. apresentando diversos retratos da vila através dos olhos da jovem Laurinda, certamente recriados pelo autor com a ajuda da memória da sua mulher: o naufrágio na praia e a devoção ao Senhor das Chagas, a procissão do Senhor das Chagas: tanto a verdadeira, como uma reconstituição de brincadeira feita pelas miúdas da vila:

              «As hortas ficavam a um girinho da vila. Depois dos becos e travessas, passávamos pela estrumeira da Câmara – e logo os nossos pés a calcorrear o chão ondeante, bravio. Dávamos as mãos umas às outras, em comprido cordão: uma fila de sete, oito, dez. Primavera desejada! Num campo cheio de sol, livres de pais, mães e tias, chilreávamos de felicidade.
             Tapetes de malmequeres brancos e amarelos, cachimbos e cãezinhos; aqui e ali, abelhudos, espreitavam goivos. Nossos olhos encharcados de cor! Narizes a sorver perfumes! E colhíamos ramilhetes, sortíamos efeitos, caprichávamos matizes, sôfregas de prazer e encanto.
             Com as diversas flores colhidas preparavam o enfeites: cordéis à volta da cintura, da cabeça e dos punhos. No tronco colocavam malmequeres amarelos; os mais raros malmequeres brancos iam para a grinalda; mas todas queriam levar a rede: um pedacito de rede na cabeça representava o "manto de Nossa Senhora", o manto do céu; tinham que tirar à sorte com pedrinhas ("pedrinha, pedrinha, quem quer ser a madrinha?"). Cortejo encabeçado por uma cruz de cana ("A treze de Maio / apareceu Maria…") percorriam as ruas vazias, "olhos em frente, passo lento, solene".»

    Vários outros episódios e apontamentos, vistos pelos olhos da jovem Laurinda, desfilam gostosamente nas palavras de Romeu Correia: um cão atropelado; duas vizinhas a "baterem-se de língua"; um pescador a fazer cabriolas; os "robertos" e os seus personagens (“Zé Broa”, "Padreca", "Miquelina", e o "Polícia"); os recados:

     - «Pega. Trás dois tostões de cloreto…
    - Mãe, tostão pra pinhões…
    - Deixa-me negra! Não me tentes!

    No Inverno:
              «Passavam os pescadores, embarretados, mãos encafuadas nos bolsos; e velhotas, a tiritar, de xaile pela cabeça, só os olhos e aponta do nariz de fora.»

    Na pesca:
              «Os senhores das companhas usam ainda as mesmas contas dos seus pais, herdadas dos avós – e em toda a praia não há velho que saiba explicar quem criou aquela lei tão natural, de números tão respeitados, mas tão absurda. E os homens voltam todos os dias para o mar, acriançados no falar, velhinhos na pele do rosto – parecendo meninos teimosos a receber o castigo das ondas.» (1)

    Romeu Correia começou a trabalhar em 1941 para o Banco Nacional Ultramarino, mas com modestas funções que o obrigavam a ir para a província, tendo passado 3 meses na Régua e 19 meses em Torres Vedras. Foi aqui que casou, em 31 de Outubro de 1942, com Almerinda Rosa, que viria a agregar o apelido Correia ao seu nome. Eis como Romeu Correia descreve esses tempos:

              «Dias tragicómicos na vida de um jovem apaixonado, com encargo de mulher, que alugara a força de trabalho por dez escudos diários, quantia irrisória que mal custeava uma refeição. Mas uma vez apartado da minha rapariga e sujeito a tão dura prova de resistência física (…) regressei à minha terra natal trazendo na minha leve bagagem duas ambições: conseguir aperfeiçoar-me no ofício de contista e dramaturgo, e fazer triunfar a minha rapariga nas competições e jogos atléticos. Este último desejo foi pouco depois coroado de êxito, pois a Almerinda conquistou lugar de relevo no atletismo dos anos 40, chegando mesmo a recrutar, graças ao seu prestígio pessoal, cerca de vinte jovens para a prática de tão sã modalidade.»

    É também provável que tenha natureza autobiográfica o conto "A relva e o ovo", que relata a vida de um casal que vive na província, enquanto aguarda transferência para Lisboa (pelas datas referidas acima, Romeu e Almerinda devem ter permanecido ainda, após o casamento, três meses em Torres Vedras.)

              «Ao findar o serviço bancário, não a encontrando em casa ou sob o caramanchão, sabia tê-la lá em baixo, ajoelhada, na barrela. Gritava-lhe convidativo:
             - Queres vir treinar-te, Almerinda?
             Ela trepava para a margem, com o alguidar atestado de roupa e retorquia
             - Vamos, sim.
             Era só questão de fazer sair o vestido pela cabeça e calçar os sapatos-de-bicos, pois o calção e a blusa serviam de roupa branca…»

    Recorde-se que nesse tempo não existiam estádios ou pistas para treinos em Almada: era nas ruas que as atletas treinavam. Romeu Correia salienta: "Isto ainda era bastante propício a preconceitos parvos quando uma rapariga se exibia em calções, correndo e saltando, ante mil olhos-velhos." E no conto "A relva e o ovo" pode ler-se:

              «Os nossos treinos tinham sempre curiosa assistência. Futebolistas, garotada e muitos camponeses, embasbacados, que pelo cimo da linha férrea faziam trilho. Éramos popularíssimos. Nos primeiros tempos os calções de Almerinda custaram-nos alguns reparos. Mas os olhos dos burgueses e do mulherio desprevenido foram perdendo o engodo pelo escândalo, rareando, por fim, os ditos e os risos.»

    Camisola de Almerinda
    Camisola-bandeira de Almerinda Correia (clique)

    Almerinda começou por praticar desporto federado na União Sport Clube Almadense, que depois se fundiu com o Pedreirense Futebol Clube para dar origem ao Almada Atlético Clube. Era um clube tão pobre que nem tinha dinheiro para uma bandeira. Almerinda foi a primeira atleta a representar o Atlético e, tendo vencido a prova, colocou-se o problema da bandeira para hastear na cerimónia de honra: não havia. Solução: a camisola amarela da atleta, por ela mesma confeccionada, subiu no mastro do Estádio Nacional. Ainda hoje essa "bandeira" é venerada na sede do clube, em Almada.

    Almerinda Rosa Correia foi por cinco vezes campeã de Portugal e venceu por seis vezes os Campeonatos Distritais nos Torneios de Lisboa, na modalidade de lançamento de peso, disco e dardo. Como atleta completa, aliou os brilhantes resultados no arremesso a outras distintas classificações em corridas e saltos. No total, obteve 11 primeiros lugares, 11 segundos e 16 terceiros. A Câmara de Almada homenageou-a pela sua actividade desportiva e associativa, tendo-lhe atribuído o nome de uma rua da cidade.


    (1) Refere-se talvez à prática das armações de remunerar os pescadores com 1$00 por dia, mais uma certa quantidade de peixe (de pouca valia, naquele tempo), valor que se manteve ao longo de muitas décadas, jamais levando em conta a inflação. O romance "Trapo Azul" foi objecto de apertada censura prévia, o que não impediu o romancista de, engenhosamente, salientar o absurdo desta situação.

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