Grande abada!
Muda aos cinco, acaba aos dez, era assim que se jogava noutro tempo o futebol com equipa improvisada ao acaso do momento. Qualquer zona descampada era estádio e bancada e não tinha hora marcada. Sem juiz, fiscal de linha, nem apito ou bandeirinha, só bom-senso e canelada finta dura e sem dó a estratégia era gritada lá da frente por quem estava mais a jeito para o tento: "Passa aqui! Passa aqui, ó!" Mas se era entre seitas a partida acalorava e não era impunemente que se ia e ganhava em terreno inimigo. Quando o jogo terminava bem podias pôr-te a milhas ao abrigo da pedrada. Muda aos cinco, acaba aos dez, era assim que se jogava. |
2 Comentários:
Meu caro João Aldeia,
Li e reli, deleitado, a "Grande abada". Este poema, qual "madalena proustiana", trouxe-me à memória os tempos da minha adolescência, em que apenas aos fins-da-semana estava em Sesimbra. Então era grande a minha impaciência pela chegada da sexta-feira, pois ao sábado e ao domingo tínhamos os treinos e os jogos do Real Quintinha - uma sucursal do "Madrid", está bem de ver. Lembro-me de ter contratado o Aquiles para treinador - além de um medíocre defesa de futebol, eu era ainda o secretário técnico do clube -, e nesse ano ganhámos um torneio estival, por nós organizado na Quintinha, defrontando, na final, a equipa do Café Convívio.
O João Aldeia descreveu a coisa tal e qual. Soberbo!
Fico-lhe grato pelo magnífico poema.
Só a emoção provocada pela evocação desses belos tempos é que pode explicar o exagero do elogio do Pedro Martins, cujo comentário agradeço.
Também eu era um medíocre defesa. Havia uma correlação entre a qualidade e a progressão no terreno: os jogadores mais fracos tendiam a ser colocados na defesa, e os nulos a guarda-redes. O verdadeiro jogador de bola, nestas equipas, era o avançado, e o objectivo era meter golos. Senão, para acabar aos 10, nunca mais dali se saía.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial