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Rua Conselheiro Ramada Curto. Sesimbra, 1979. Photo by Karen. |
António Duarte Ramada Curto é um caso raro de político monárquico que sobrevive na toponímia sesimbrense — os outros são António Peixoto Correia e António Augusto de Aguiar. Alguém sabe a que se deve tal honra?
Governador de Angola por duas vezes (1897-1900, e 1904-1906), o médico e deputado Ramada Curto teve também uma brilhante carreira civil: director do Hospital Colonial, professor da Escola Colonial, director do Museu Colonial, presidente da Direcção do Jardim Zoológico, entre outras coisas.
Mas é de realçar a sua sobrevivência toponímica à avalanche revolucionária de 1910. Tudo o que mexia na mitologia republicana teve nome de rua em Sesimbra. Por exemplo: quase todos os membros do primeiro governo provisório republicano. Depois o Estado Novo colocou alguma água na fervura, eliminando em 1937 alguns dos nomes mais incómodos, como Afonso Costa, e sumidades tais como Teófilo Braga, António José d'Almeida, Bernardino Machado, António Luiz Gomes, Magalhães Lima ou José Relvas. Por essa altura recuperou alguns reis, como D. Sancho I ou D. Dinis, mas a magnanimidade não foi suficiente para restaurar D. Carlos, saneado pelos republicanos do largo que actualmente se designa Bombaldes.
Tudo isto é facilmente explicável pelas modas e emoções de cada época. O que me escapa é porque é que sobreviveu na toponímia de Sesimbra o nome do coronel Barreto, nulidade política e militar que ocupou a pasta da Guerra no 1º governo republicano. Se calhar sobreviveu — na rua que sobe do largo do Município até à tasca do Isaías — por causa disso mesmo: ninguém sabia a que se devia a honra, e não se devia a nada!
Mas já lá vão quase 100 anos de nome de rua, já chega! Aproveitemos a proximidade do centenário da República para reformar o coronel Barreto. Uma boa alternativa será o nome do rei D. Carlos, mas se isso ainda irritar muito os republicanos ao carbonizar dos 100 pavios, que seja então o nome de Almerinda Rosa Correia, que ali nasceu, nos fundos da taberna que é hoje o restaurante Pintarolas, ela que foi uma das pioneiras do desporto feminino em Portugal, e cuja vida humilde aparece retratada no romance
Trapo Azul [
ler →], homenagem merecida numa terra que quase não tem ruas com nomes de mulheres: rainha D. Leonor, Amália Monteiro Caldeira, Amélia Frade, Maria da Arrábida. Almada já lhe deu nome de rua, porque não também a terra onde nasceu?
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