Após a greve de 1896, os pescadores tinham conseguido aumentar, de 10% para 15%, a sua parte nos lucros das vendas (que somava ao salário de 240 ou 280 réis). Na armação Agulha não tinha havido greve mas o armador, Alípio Loureiro, decidira também aumentar para os 15%. No entanto, nos anos seguintes, alguns armadores começaram a reduzir aquela percentagem. Em 1900, sendo Alípio Loureiro presidente da Câmara, foram reduzidas para 10% as percentagens pagas nas armações Cabo d'Ares, Penedo, Cosinhadouro, Risco e Agulha. Os pescadores tentaram pacificamente, junto dos armadores, que fosse reposta a percentagem de 15%, mas estes recusaram, e os pescadores entraram em greve. Para fazer o levantamento da Agulha, Alípio Loureiro decidiu contratar camponeses que não pertenciam às armações, o que era ilegal, pois não estavam matriculados na Capitania, e tentou embarcá-los no calhau da Cova, longe da autoridade marítima. Os pescadores colocaram-se então na praia de Sesimbra para impedir a saída das barcas: uns jornais da época referem mil, outros duas mil pessoas, tanto pescadores como mulheres e filhos. O administrador do concelho tinha mandado vir um vapor da marinha e 30 soldados de Infantaria 11, que ameaçaram com tiros para o ar. Não tendo resultado, foi dada ordem de fogo sobre as pessoas, tendo sido mortos três pescadores, para além de vários feridos. Perante uma opinião pública desfavorável aos acontecimentos, Alípio Loureiro escreveu para os jornais, acusando os pescadores de terem tentado atacar os soldados com pedras e "chamas" (pequenos paus de madeira, de entre um a dois palmos de tamanho, normalmente usados para fixação dos remos às embarcações). Adaptado do estudo de Belarmina Maria Sousa Vieira, "As Elites e as Classes Populares em Sesimbra - 1890-1926" |