Mais pinto que leão
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O prédio da Rua da República conhecido como "Pinto Leão" foi, na época da sua construção, uma obra que chamou a atenção dos sesimbrenses, pela dimensão e demora da obra. Hoje quase não se destaca no meio do casario, apesar da estranha empena cega que oferece à Avenida da Liberdade, que creio dever-se ao facto desta via não estar então planeada, prevendo-se antes que outro prédio se encostaria ali.
Seja como for é um prédio bonito, de formas equilibradas e elegantemente coberto de azulejos, com boa cantaria, enquadrando portas e janelas naquele estilo de moldura cruzada que se vê muito na vila. O tempo e falta de manutenção tem levado à queda de alguns azulejos, mas finalmente realizaram-se obras nas fachadas. Pois imagine-se: em lugar de se reporem os azulejos, atamancaram-se as falhas com uma argamassa qualquer (cimento?) pintada de um azul-qualquer-coisa, a fingir que "liga" com a cor dos azulejos. Será camuflado de guerra? Bom, só se for duma guerra ao bom gosto e bom senso.
Veja-se, por exemplo, este detalhe: ainda se descobre um ou dois azulejos de um outro azul, que lá devem ter sido colocados durante uma reparação mais antiga. Ainda por restaurar está a placa toponímica da Rua Leão de Oliveira: esperemos que não o seja no mesmo estilo pós-moderno.
Como é que é possível fazer uma coisa destas? Creio que a entidade fiscalizadora irá intervir, mas impressiona-me isto: como é que uma qualquer pessoa, proprietário ou operário que tenha engendrado o remendo, pode ter achado que se tratava de uma boa solução? Alguém faria isto na própria casa, ainda que fosse a remendar uma parede interior? Compreende-se que se pretende travar a queda dos azulejos, mas, a não ser que se trate de uma solução provisória, fica muito mal.
Ele até pode ser o prédio do "Pinto Leão", mas, pintado daquela maneira, está mais para o pinto do que para o leão. Dir-se-ia, com ironia, que é mesmo uma grande "pintarola"!
Adenda: li algures que a reparação feita na fachada deste prédio é provisória e apenas para evitar que caiam mais azulejos. Então não se compreende porque é que não fizeram tudo de uma vez. Mais tarde vão voltar a instalar os andaimes, para retirar a argamassa agora aplicada e depois colocar os azulejos em falta? Dessa forma, não ficará tudo muito mais complicado e dispendioso? E será mesmo assim? Aguardemos.
5 Comentários:
João, penso que realmente foi para "atamancar" o edifício de onde caíam diariamente vários azulejos, perigando os transeuntes de uma rua bastante central. Aquele edifício sofrerá obras de raíz, não sabendo porém se terá de manter a fachada e os lindíssimos azulejos (devia constar no tal Guia de edifícios de interesse local da Vila de Sesimbra, não acha??, se efectivamente estará integrado na zona de protecção especial da Fortaleza de Santiago. Bem, mas também por aí não chegamos lá porque o Monumento ao Pescador está nessa zona e tem um toldo a tapá-lo, sendo impossível vislumbrá-lo do melhor ponto: a Rua da Fortaleza (de frente!!!!!!)
Urban@:
A protecção destes edifícios é um problema, porque não possuem características individuais que justifiquem uma classificação como monumentos de interesse histórico, artístico ou cultural, mas por outro lado, no seu conjunto, configuram uma imagem urbana que deveria ser preservada. Por exemplo: com toda a minha compreensão pela necessidade de novas construções, ainda não consegui "assimilar" aquele cone amarelo que encima o conjunto habitacional ao fundo da rua Manuel de Arriaga, frente à tasca do Isaías. É uma coisa que agride desnecessariamente a imagem da vila.
Em todo o caso, como se aproxima a revisão do Plano Director Municipal, o tema da preservação da imagem urbana criada por edifícios como o do Pinto Leão, é um bom tema para debate público.
João Veiga:
Não é esse edifício (pastelaria Tomé), mas sim um edifício de habitação na rua da República, muito próximo da Câmara Municipal, frente à porta norte da praça.
Botedouro, daqui a muitos anos, mesmo muitos, aquela cone ainda há-de ser o ex-libris, a imagem de marca de Sesimbra...Duvida???...
É possível. Em todo o caso não defendo a destruição do cone nem lamento que tenha sido construído. apenas exprimo a minha opinião: não gosto.
No entanto, a tendência actual da construção urbana é para uma obsolescência rápida e substituição dos edifícios ao fim de poucos anos. Podemos imaginar que o progresso nos domínios da gestão da energia, da robótica, etc, justifique, daqui a umas poucas décadas, a substituição dos edifícios a cuja construção assistimos hoje. A ser assim, nem sequer vai haver tempo para a constituição de uma memória colectiva que justifique a manutenção de determinada paisagem urbana ou edifício.
Este caso parece levantar um interessante problema de jurisprudência, a merecer a atenção dos especialistas: se fosse o proprietário a solicitar formalmente aquele tipo de intervenção, com os correspondentes desenhos explicativos, indicação de materiais, cores, etc., provavelmente seria chumbado.
Mas imposta, por motivos de segurança (se foi esse o caso...), pela mesma entidade que indeferiria no contexto anterior, a coisa passa a estar legalíssima. É muito curioso.
Recordo-me de ouvir falar da "legalização pela multa". Analogamente, este caso parece ser uma "legalização pela inversão do ónus da prova". Que dirão disto os juristas?
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