Esta fotografia já antes tinha aqui sido referida, a propósito de dois modos de vestir do pescador sesimbrense: o barrete, de uso mais antigo, e o boné, moda posterior. Acontece que o nosso amigo Chagas, bisneto daquele pescador mais idoso, o identificou: é o "velho" Zózimo, que foi pai do Manuel Zózimo. Curiosamente, apesar do verdadeiro apelido de família ser Chagas, a força da tradição fez com que no contrato da água pública constasse a alcunha em lugar do apelido. Zózimo, pelo seu lado, é nome muito antigo. É famoso o grego Zózimo de Panopolis, que viveu no final do III século depois de Cristo e que escreveu o mais antigo tratado de Alquimia.
[ clique para ampliar ] Sesimbra. O local onde se viria a instalar a primeira lota em edifício coberto era ainda e apenas um pontão de (difícil) acostagem. Viradas para sul, uma fiada de traineiras. Viradas para norte, uma série barquinhas. Note-se ainda o carro que está em sobre o pontão.
Cristina Branco Cineteatro João Mota, Sábado, 30 de Junho, 21h:30
Este será provavelmente o espectáculo do ano em Sesimbra. Cristina Branco tem tido uma carreira desenvolvida a partir do norte da Europa, e embora tenha uma base no fado, não se tem circunscrito à norma tradicional desta música portuguesa. Por outro lado, Cristina Branco tem inovado constantemente nas suas criações. Talvez este singular percurso não tenha ainda permitido a muita gente perceber a enorme qualidade desta artista, bem como do seu marido, Custódio Castelo, guitarrista e compositor.
A canção do video de cima tem um poema de David Mourão Ferreira - "Corpo Iluminado" - e música de Custódio Castelo; o acompanhamento é do "Conjunto Ibérico" (octeto de violoncelos). No fim do visionamento podem-se activar mais três músicas de Cristina Branco: "Assim que te despes" (apenas audio), "Prelúdio", "Se a alma te reprova" (seleccionar seta à direita ou rodapé do visor YouTube)
[ clique para ampliar ] Descripção do Reino de Portugal Por Duarte Nunez do Leão 1610
«E vindo ao mar Oceano, nas costas dos reinos de Portugal & do Algarve & portos de Sines, & de Cezimbra, Cascaes, Peniche, Pederneira, Buarcos, Aveiro, São João da Foz, & todos os mais portos até o Minho, é cousa notável a multidão que dão de pescado, & sua bondade. Mas o mais para estimar, é o que se toma nas praias de Setúbal o qual em sabor excede a todo o de Espanha, & porventura de Europa: ou por o clima em que está, ou por o pasto em que o pescado se ceva. E assim naquele mar morrem os mais regalados pescados, de que têm o primado os salmonetes, os vesugos, peixes agulhas, grandes rodovalhos, chernes, linguados, sargos, pescadas, & sardas, & os mais peixes preciosos que se podem pedir. Neste mesmo mar se viram e se vêem muitas vezes as mais desvariadas feições de peixes que em nenhuma outra parte, & muitas que nunca se viram nem se lhes sabe o nome. No mesmo mar de Setúbal e no de Cezimbra sua vizinha, há a mais sardinha e mais saborosa que se pode dar: a qual além de sustentar o reino, se leva por mar a outras partes, & por terra ao reino de Castela para onde sai grande carregação até à corte de Madrid. Dos portos que dissemos, saiem os atuns do Algarve para Levante em muitos navios que de Itália os vêm buscar. De Cascais,Peniche, Pederneira, Aveiro & Buarcos até ao Minho saiem infindas pescadas, cações, lixas, raias, corvinas, polvos, & outros pescados secos dos quais se leva muita carregação para todo o reino e grande parte de Castela, principalmente do mediterrâneo dela: afora as muitas tainhas & outros pescados secos que os portugueses vão pescar à costa de Arguim, & bacalhau à terra nova, de que há outra carregação. «O refresco de todo o género de marisco, de lagostas, caranguejolas, santolas, lobagantes, ostras, ameijeas, mexilhões, & posseves, é infinito. Das quais ostras se leva em escabeche muita quantidade para fora que têm por grande mimo, como se levam também muitos linguados çapateiros de Aveiro feitos & adubados em barris.»
Notas: A baía e ilha de Arguim localizam-se na Mauritânia, a sul do Cabo Branco (ver na Wikipedia). Os portugueses tiveram ali uma feitoria.
em que o pescado se ceva: em que o peixe se alimenta
Capotamento de um automóvel na curva que antecede a Alfarrobeira, para quem desce de Santana. É uma curva muito apertada e onde já se deram numerosos acidentes, muitos deles de grande gravidade. Está agora mais segura por causa de um simples desbaste de terras que melhorou a visibilidade. Mas a fotografia apresenta outro ponto de interesse: a Alfarrobeira. Parece mais pequena do que na realidade era nesta altura, porém, se a compararmos o tamanho dos carros que estão parados ao pé, formamos uma melhor ideia das suas dimensões. Esta árvore tem sido regularmente cortada do lado da estrada e a foto mostra precisamente o efeito de um desses cortes
(*) - começou por estar ao serviço da Marinha dos EUA, na missão de vigilância e detecção anti-submarina. Depois de reconvertido para navio hidrográfico no Arsenal do Alfeite, iniciou as actuais funções na Marinha Portuguesa em 6 de Janeiro de 2000. A Marinha portuguesa tem outro navio idêntico, o "D. Carlos I".
«(...) há uma coisa que me parece indefensável: que o autor ou autores de um blogue não sejam responsáveis pelos comentários que publicam, anónimos ou não, caso as suas caixas de comentários sejam totalmente abertas. Por isso, os blogues que acham que lá por porem uma salva de prata, ou um prato de barro, em cima de um monte de lixo, podem ser vistos apenas pela prata ou pelo barro, enganam-se. O lixo dos comentários, tantas vezes puramente calunioso, está lá, à vista de todos e não serve nenhuma liberdade, nem nenhuma opinião "anti-sistema", muito menos o "povo" ou a democracia. Bem pelo contrário, serve quase sempre o pior dos sistemas, a mesquinhice da aldeia, a claustrofobia do boato e da insinuação, o crime da calúnia. Depois não se queixem.»
A velha Alfarrobeira encontra-se em muito mau estado. Nos últimos anos foi-lhe cortada grande parte da copa e, há semanas, com uma daquelas máquinas utilizadas para aparar as ervas e arbustos das bermas, fizeram-lhe uns brutos cortes na zona do tronco, visíveis na fotografia. Não se deve tratar assim nenhuma árvore, e muito menos a velha Alfarrobeira. Com semelhantes tratos não é de admirar que se encontre doente, como denota a parte superior da copa, já sem folhas. Para tornar esta situação ainda mais absurda, está-se a construir um grande bloco de apartamentos ao seu lado, o qual, na publicidade de vendas, se auto-designa como urbanização "da Alfarrobeira". A Alfarrobeira, para quem não sabe ou não se lembra, está ali há muitos anos, à beira da mais antiga estrada de Sesimbra, que nascia junto à capela de S. Sebastião e continuava no que é hoje a rua Ramada Curto, seguindo depois até Santana. Também ali se fixou o limite das freguesias de Santiago e do Castelo. Imensas vezes passei pela Alfarrobeira a caminho de casa, a pé, noite dentro, olhando-a com respeito, temendo que houvesse algum fundo de verdade nas lendas e histórias de assombrações que dela se contavam. Deve certamente ser possível fazer algo pela velha Alfarrobeira - não a podemos abandonar à sua triste sorte.
Anúncio do jornal Distrito de Setúbal de 6 de Agosto de 1966. A telefonia sem fios era um equipamento importante para as longas viagens das excursões. Note-se ainda que as carreiras não só iam de Sesimbra para Cacilhas e Setúbal, mas também "vice-versa": informação importante, não fossem os "auto-carros" ficar para lá esquecidos...
Match Point Realizador: Woody Allen Género: drama, thriller Cineteatro João Mota - Quarta, 27.Jun. - 21h30
Enredo: Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers) é um antigo jogador profissional de tenis que procura agora trabalho como instrutor. Conhece Tom Hewett (Matthew Goode), um rapaz muito atraente. A irmã de Tom, Chloe (Emily Mortimer), apaixona-se por Chris, mas Chris só tem olhos para a namorada de Tom, a sensual Nola (Scarlett Johansson). Chris tenta relacionar-se com ambas as mulheres mas sabe que, mais tarde ou mais cedo, terá de optar por uma delas.
Scoop Realizador: Woody Allen Género: comédia, policial Cineteatro João Mota - Quinta, 28.Jun. - 21h30
Enredo: Sondra Pransky (Scarlett Johansson) é uma jovem norte-americana estudante de jornalismo que reside em Londres. Quando é convidada a participar num número de magia entra em contacto com um fantasma que lhe revela que um belo ricaço (Hugh Jackman) pode ser um assassino em série. O seu espírito de jornalista fala mais alto e ela decide investigar o suspeito, mas acaba por se apaixonar por ele.
Quando a Câmara de Setúbal comprou o cineteatro Luisa Todi, em 1990, durante algum tempo fiquei com a responsabilidade pela programação de cinema. Já nessa altura a rede de salas de cinema do país se encontrava nas mãos de grande grupos de distribuição, pelo que era muito difícil, e caro, programar os grandes filmes da actualidade.Foi então necessário encontrar uma solução de compromisso entre os filmes que essas redes se dispunham a ceder-nos – mas sempre muito tempo depois da estreia – e filmes antigos de qualidade.
Aprendi também que teria de decorrer algum tempo até que o público retomasse o hábito de ir ao cinema. O cineteatro Luísa Todi nunca interrompera a programação, mas nos últimos anos tinha exibido filmes duma má qualidade gritante que já não atraíam ninguém. Quem me ensinou isso foi o actor Carlos César, que estava responsável pela programação do teatro na mesma sala. Dizia ele que levaria algum tempo a criar uma “corrente de público” e que o principal era definir uma programação de qualidade e manter esse nível. Sou um colaborador antigo do Festróia, organização que tem actualmente a responsabilidade pela programação dos dois cinemas municipais de Setúbal, em colaboração com a distribuidora Atalanta Filmes, de Paulo Branco. Por isso divulgo na blogosfera, há muito tempo, os filmes que lá passam. Recordei-me disto há dias quando soube que algumas das sessões do cineteatro João Mota tinham tido poucos espectadores e que também não era fácil programar os filmes desejados: hoje a concentração das empresas distribuidoras continua a dominar o mercado e a reservar os melhores filmes para as suas redes de salas. Como vão distantes os tempos em que se podia pedir ao João Mota para trazer determinado filme – tal como se pedia ao Julião da biblioteca para encomendar determinado livro, embora este último caso, felizmente, continue a ser uma prática corrente. Gosto muito de cinema e considero boa a programação que tem havido para Sesimbra. Por isso não me interessa nada que o cinema venha a alterar ou diminuir as suas sessões. Com as minhas modestas possibilidades farei o possível para divulgar os bons filmes do cineteatro João Mota, tanto mais que a Internet e os videoclips permitem uma informação rápida, actual, informada e sugestiva acerca dos filmes em cartaz. Quem me diria que os velhos prospectos de papel amarelo, azul e cerise do João Mota, cujo cheiro ainda associo aos dias de praia nos idos anos da minha juventude, seriam substituídos por estes espectaculares trailers que nos chegam a casa? E quem se imagina agora de nariz espetado nos cartazes expostos na montra no cinema, a tentar adivinhar se a fita valeria o sacrifício das coroas que rareavam nos bolsos? Nesses tempos da minha juventude vi grandes filmes, bons filmes, no cinema de Sesimbra. Constituíam principalmente um divertimento, mas tinham também um papel importante numa certa informação e formação acerca do mundo e da humanidade. Na altura em que vi o Spartacus, um dos filmes de que mais gostei, não fazia a ideia de que se tratava de um manifesto intencional contra a perseguição de liberais de esquerda nos EUA, período que ficou conhecido como a “caça às bruxas”. O roteiro desse filme foi até escrito, de forma camuflada, por muitos autores que estavam proibidos de trabalhar na indústria cinematográfica por cauda de perseguições políticas. Essa é a força do cinema, tal como de outras formas artísticas: transmitir sentimentos elevados e valores que vale a pena defender. Além disso, só quando é visto nas salas de cinema é que se produz aquele fenómeno da “suspensão temporária da credulidade”, tão importante na fruição das obras de ficção, mas que aparentemente pouca gente sabe o que é. Para além dos filmes, recordo as conversas que motivaram, noite fora, nos cafés de Sesimbra, na esplanada do Central ou no banco circular de ferro do jardim. Ainda recentemente me lembrei da admiração que o António Carlos (Brazinha) tinha pelos filmes do Drácula, cujo actor, Cristopher Lee, esteve há semanas no Festróia. Para se conversar sobre filmes é preciso que outros tenham tido a experiência do encantamento do cinema. Sim, divulgo os filmes por um interesse pessoal, mas que é apenas este: gosto de cinema e de que os outros também gostem.
[ clique para ampliar ] Castelo de Sesimbra em ruínas, antes da recuperação de 1936/1941 (*).
Na passada sexta-feira, 22 de Junho, o arqueólogo Luís Ferreira fez uma excelente palestra, incluída no ciclo das Conversas na Capela do Espírito Santo dos Mareantes. A qualidade da comunicação deve-se sem dúvida ao facto de a mesma se apoiar na investigação académica desenvolvida pelo arqueólogo, "Da Pedra ao Acorde", mas também ao trabalho efectivo realizado na Câmara Municipal de Sesimbra. Mesmo para aqueles que acompanham mais atentamente a vida cultural de Sesimbra, a conferência esteve recheada de novidades, tais como as recentes descobertas relativas à Sesimbra medieval, as quais permitem estabelecer uma cronologia para a sua evolução (ao invés do que muitos pensam, o castelo não foi logo de origem construído com o aspecto que tem hoje) bem como delinear já com alguma precisão a organização da vila no interior da cerca medieval. Foi interessante saber que Sesimbra é o único castelo medieval português junto à costa marítima, já que os outros foram transformados em fortalezas por imposição das novas tecnologias militares. Também interessante é o enredo (ainda por esclarecer) da construção da torre sul, que pode ter sido justificada pela necessidade de comunicação visual com o Forte de S. Teodósio. Outra hipótese interessante adiantada por Luís Ferreira é a de ter havido uma divisão territorial, no concelho de Sesimbra, entre as comunidades árabes e as cristãs, tendo o castelo como referência. Esta hipótese apoia-se no facto muitos topónimos a poente do concelho terem origem árabe, ao contrário do que acontece a nascente, e também em aspectos construtivos das muralhas da cerca sesimbrense. Parte da comunicação, igualmente de muito interesse, foi dedicada a expor um modelo de gestão para o património cultural, exemplificada com o apoio de dados estatísticos relativos aos investimentos e ao uso do referido monumento. Luís Ferreira ainda falou de algumas novidades arqueológicas relativas à vila ribeirinha e detalhou a recente notícia da descoberta de "cetárias" do período romano junto à fortaleza de Santiago, que passam a constituir o documento mais antigo da ocupação da actual vila no período histórico. Estas cetárias, que se encontram em grande quantidade em Setúbal e Tróia, destinavam-se ao fabrico de compostos alimentares a partir de peixe, nomeadamente o garum, iguaria muito apreciada em Roma. A qualidade desta reflexão ajuda certamente a compreender a valia dos investimentos e das actividades desenvolvidas no castelo ao longo dos últimos anos, mas mostra igualmente que há ainda imenso a fazer para que os sesimbrenses (de todo o concelho) conheçam melhor a História da sua terra, da qual justamente se podem orgulhar. Espera-se, entretanto, que seja resolvido o paradoxo criado ao Centro de Documentação Rafael Monteiro, hoje mais usado como posto de informação turística. Rafael Monteiro, o último residente no castelo de Sesimbra, foi pioneiro na recuperação da memória histórica para a afirmação da identidade Sesimbrense, actividade que desenvolveu com grande amor, embora também com grandes dificuldades. Certamente que os sesimbrenses saberão continuar a homenagear a sua memória.
(*) «A carripana vai descendo para Sesimbra pela estrada em torcicolos, entre dois montes que se abrem, um com moinhos velhos afadigados lá no alto, outro com o castelo em ruínas como um queixal cariado.» - Raul Brandão, "Os Pescadores" (1923)
[ clique para ampliar ] Largo 5 de Outubro, em Sesimbra, com a bela araucária central ainda quase coladinha ao chão. Compare-se com a foto de baixo, tirada há poucos dias. À sua direita em baixo, um pedaço de um dos ramos com uma pinha.
A fotografia de cima e a que aparece mais abaixo foram digitalizadas a partir de uns bilhetes postais que eu adquiri em tempos. O postal de cima, comprado num alfarrabista de Lisboa, foi até algo dispendioso. Em ambas as fotografias é visível a fragata Numância encalhada na praia de Sesimbra. A foto de cima deve ter sido tirada pouco tempo após o encalhe de 16 de Dezembro de 1916: o navio está inteiro e vê-se que há uma romaria de curiosos a mirar o insólito panorama. Há igualmente uma aiola à vela a passar à frente do barco. Na fotografia de baixo nota-se já a canibalização do velho navio de guerra, enquanto a vida na vila corre indiferente ao outrora orgulhoso lobo dos mares. Há alguns anos coloquei estas fotografias na Internet, juntamente com um relato sobre o naufrágio e encalhe, relato esse escrito em 1975, por mim e outros colaboradores da Associação Sesimbrense de Cultura Popular. Esse relato fora baseado no depoimento de vários sesimbrenses que conheciam a história do barco — que classificavam como "cruzador" — barco que ia de Cádiz para Bilbao, levado por dois rebocadores, para ser transformado em sucata. De caminho, e também como lastro, levava um carregamento de sal. Quando coloquei estes dados na Internet aproveitei para os actualizar, contando a história da fragata desde a sua construção em 1863, como fragata couraçada: um veleiro tradicional, mas já com casco de ferro, e reforçado com couraças também de ferro - uma solução de transição entre a era madeira e a era do ferro na construção naval. Essa publicação na Internet teve uma consequência curiosa: em Espanha a história que corria era a de que a velha fragata se afundara e desaparecera nas profundidades: um destino romântico, mais apropriado a um barco que durante algum tempo fora o orgulho da marinha de guerra espanhola. Mas depois vários sites espanhóis passaram a reproduzir o relato que eu publicara, com a devida referência, chamando a atenção para duas singularidades: uma foi o sal ter voltado a ser deitado ao mar, seu elemento natural, para não pagar imposto alfandegáreo; a outra foi terem os sesimbrenses aproveitado para suas casas muita da madeira do navio, que era de excelente qualidade. Um dos sítios que reproduziu a história foi o da actual fragata de guerra espanhola que herdou o nome: F83 Numância. De tempos a tempos vejo alguns blogs sesimbrenses publicarem estas mesmas fotos, sem referirem a origem - o que é quase irrelevante - mas sobretudo sem relembrarem a fantástica história da Numância. Provavelmente está bem. Afinal, quem não tem memória não tem remorsos.
Os Robinsons Realizador: Stephen J. Anderson Género: aventura, comédia (para maiores de 6) Cineteatro João Mota - Domingo, 24.Jun. - 10h
Sinopse: Lewis, um brilhante inventor com apenas doze anos, conta já com uma série de inventos inteligentes em carteira. O mais recente e ambicioso é o Scanner de Memória, uma máquina que ele espera o ajude a recuperar memórias passadas e descobrir por que razão a sua mãe o deu para adopção. Ainda antes de encontrar resposta para esta questão, a sua invenção é roubada pelo covarde Homem Chapéu e pelo seu diabólico companheiro, Doris.Desencorajado e sem esperança, Lewis vê-se subitamente envolvido numa viagem até ao futuro, na companhia de um desconhecido, Wilbur Robinson, que se dispõe a ajudá-lo a capturar o Homem Chapéu.
Babel Realizador: Alejandro González Iñárritu Género: drama, thriller Cineteatro João Mota - Domingo, 24.Jun. - 21h30
Sinopse: Quatro histórias relacionadas, tendo em comum uma arma, convergem no final para revelar a complexa trama e a diversidade da vida dos humanos. Em Marrocos, um casal passa férias para tentar resolver os seus problemas de relacionamento. Entretanto um cameleiro marroquino compra uma arma ao filho, para tentar manter os chacais afastados do acampamento. No Japão, uma jovem rapariga confronta-se com a regeição, com a morte da mãe e com o distanciamento emocional do pai. No lado oposto do planeta, a ama dos dois filhos do casal em férias leva as crianças para o casamento do irmão, mas esperam-na complicações no caminho de regresso. Todos estes percursos se acabam por relacionar entre si numa poderosa narrativa cinematográfica em que a metáfora da Torre de Babel espelha as dificuldades de comunicação entre pessoas.
The Departed: Entre Inimigos Realizador: Martin Scorsese Género: crime, drama Cine Teatro João Mota - 21 de Junho, 21h:30
Sinopse: Um gangster é escolhido para se infiltrar na Polícia, ao mesmo tempo que um jovem polícia é escolhido para se infiltrar no gangue. Quando os seus caminhos se cruzarem, qual será o resultado? O novo filme de Martin Scorsese, remake americano de um filme de Hong Kong, conta com as participações de Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Mark Wahlberg, Jack Nicholson, Martin Sheen e Vera Farmiga.
Extraordinário filme, este "Diamantes de Sangue". Duas horas e meia de bom cinema, um filme bastante emocional, particularmente nas cenas sobre a separação e reencontro da família do pescador africano, um papel extraordinário de Djimon Hounsou — originário de Benin, veio para Paris com 13 anos, onde viveu anos como sem-abrigo, obtendo comida no lixo, até ter arranjado trabalho como modelo. O filme alerta para uma catástrofe terrível que continua a ocorrer em África. Na abertura do Festroia foram apresentados alguns documentários sobre este problema, focando as crianças que são raptadas para serem integradas nas milícias rebeldes, bem como as famílias que são destroçadas pela guerra, e as mulheres violadas e transformadas em escravas sexuais, em ambos os casos com testemunhos directos das próprias vítimas. Infelizmente o tema do filme não é uma pura ficção. Uma boa sessão para as 4 dezenas de pessoas que a ela assistiram. Este filme tinha para mim a qualidade adicional de incluir uma grande actriz, Jennifer Connelly, que vi pela primeira vez num filme de 1990 realizado por Dennis Hoper, e que o próprio realizador veio apresentar ao Festroia: "Ardente Sedução" (The Hot Spot), um filme onde Jennifer Connelly ainda tinha a carinha redonda de adolescente. Entretanto já desempenhou grandes papéis em filmes como "Uma Mente Brilhante" (sobre a vida do matemático e economista John Nash), "Águas Passadas" e "Uma Casa na Bruma". Igualmente notável é o papel de jornalista que desempenha em "Diamantes de Sangue".
[ clique para ampliar ] «Restaurante 'O Farol' em Sesimbra, cidadezinha litorânea do interior de Portugal. A escolha dos peixes recém pescados é feita na entrada do restaurante. Cherne, com um bom vinho branco, é uma excelente escolha.» (Texto e fotografia de Rodrigo Zozow)
O Hotel do Mar ainda não existia, mas já se detectam vivendas na estrada que hoje lhe dá acesso. O edifício do salva-vidas, actualmente integrado no restaurante Baía, ainda conservava a traça original, mas já sem grande utilidade depois da estrada marginal ter anulado a rampa que dava acesso directo e rápido ao mar.
Diamantes de Sangue Realizador: Eward Zwick Género: aventura, drama, thriller Cine-Teatro João Mota - 4ª feira, 20 de Junho
Sinopse: A Serra Leoa está mergulhada numa guerra civil. Os rebeldes invadem uma aldeia e levam o pescador Solomon Vandy (Djimon Hounson) para uma mina de diamantes onde o obrigam a trabalhar. Ali ele encontra um diamante cor-de-rosa com cerca de 100 quilates e consegue escondê-lo. Nesse momento ocorre um ataque do governo e Solomon é levado para a cadeia, onde encontra Danny Archer (Leonardo DiCaprio), um ex-mercenário que se dedica ao contrabando de diamantes. Danny descobre que Solomon tem um diamante escondido e, ao deixar a prisão, consegue que Solomon também saia, propondo-lhe um acordo: ele leva-o até ao diamante escondido e em troca Danny ajuda-o a encontrar a família.
O jornal Público de hoje inclui uma notícia sobre a exposição inaugurada ontem na Cordoaria Nacional, em Lisboa, no âmbito da Trienal de Arquitectura de Lisboa, que elegeu como tema os "vazios urbanos". Uma das imagens que acompanha a notícia (no canto inferior direito) é de uma casa a poente da Rua Dr. Peixoto Correia, em Sesimbra. A requalificação do núcleo antigo de Sesimbra é um dos projectos em exposição, juntamente com a Troiaresort, em Grândola, a regeneração da frente ribeirinha do Barreiro, o Centro de Interpretação Ambiental da Ponta do Sal, em Cascais, o Centro Cultural e Social do Bom Sucesso, em Vila Franca de Xira, o o Parque Linear, em Ourém, e a requalificação do Espaço Robinson, em Portalegre, e muitos outros, das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
Actualmente esta paisagem encontra-se bastante mais povoada de casas e árvores. As casas, sabemos quem as construíu, mas quem é que plantou as árvores? Uma pista: nos estatutos primitivos da Liga dos Amigos do Castelo (depois rebaptizada Liga dos Amigos de Sesimbra) constava o objectivo de arborizar as encostas do castelo, se a memória me não falha, com zimbros. Já não se fazem Ligas assim. Ou fazem?
No passado sábado decorreu na Biblioteca Municipal de Sesimbra a apresentação do livro de Pedro Martins, “O Anjo e a Sombra – Teixeira de Pascoais e a Filosofia Portuguesa”.
Escrito num português de excelência e contando com um prefácio de António Telmo, o livro faz a análise da obra poética de Teixeira de Pascoais, e particularmente do seu livro “Regresso ao Paraíso”. Por este caminho Pedro Martins faz a demonstração de como aquela obra se integra na corrente heterodoxa da Filosofia Portuguesa. Não possuo conhecimentos que me permitam sequer alcançar a exposição que é feita no livro, mas ele tem para mim uma qualidade enorme, dada a explição, clara e fundamentada, que faz do pensamento dos principais autores desta corrente filosófica. Especialmente interessante é a análise, sintética mas significativa, do pensamento de Rafael Monteiro, um sesimbrense muito mal compreendido, apesar das homenagens formais que a comunidade local lhe tem prestado. Uma obra notável.
Benjamin Braddock (Dustin Hoffman) e Mrs. Robinson (Anne Bancroft)
Fui ontem ver o filme "Bobby" ao Cine Teatro João Mota: a primeira vez depois de muitos anos. Uma das surpresas foi ver o filme interrompido para intervalo, como acontecia antigamente. Mas as surpresas não ficaram por aí. Logo no início do filme, cujo tema é o assassinato do senador Robert Kennedy em 1968, alguns personagens falam doutra fita dessa época, "A Primeira Noite" ("The Graduate"), um dos grandes filmes que vi no velho cine-teatro. "A Primeira Noite" representou a "revelação" de Dustin Hoffman com grande actor do cinema americano, no papel de um estudante recém-licenciado que se confronta com a profissão que os pais lhe destinam, e que é seduzido pela mãe da namorada. É precisamente sobre a actriz que desempenha este papel, Anne Bancroft, que se discute em "Bobby": nas cenas mais ousadas, teria ela mostrado os seus verdadeiros atributos físicos, ou teria usado uma substituta? Não me lembro de esta dúvida ter assaltado os jovens sesimbrenses, mas recordo que o filme foi muito apreciado: pelo tema, pela ousadia das cenas de sedução, pelo humor e também pela música de Simon & Garfunkel. A canção mais famosa do filme é certamente "Mrs. Robinson", a senhora a quem Dustin Hofman pergunta espantado: "Mrs. Robinson, you're trying to seduce me. Aren't you?" Resposta: "Would you like me to seduce you?"
O filme "Bobby" também inclui canções de Paul Simon e uma delas, apesar de muito conhecida, surgiu numa versão raramente ouvida, embora muito citada por causa da passagem da música acústica para a música "eléctrica". O duo Simon & Garfunkel tinha lançado "Sounds of Silence" em 1965, com acompanhamento de guitarras acústicas, em estilo "folk", mas não teve sucesso. Paul continuou no circuito artístico enquanto Garfunkel regressou à escola para concluir os estudos. Nessa altura o grupo The Byrds conseguiu um grande sucesso comercial com uma composição de estilo folk mas com acompanhamento de guitarras eléctricas: "Mr. Tambourine Man" - um sucesso bastante maior do que o próprio autor da canção, Bob Dylan. Então os estúdios resolveram voltar a lançar "Sounds of Silence", acrescentando-lhe acompanhamento "eléctrico" e uma forte batida de bateria: foi igualmente um sucesso estrondoso. Dizem que Paul Simon, que estava em Inglaterra e não fora consultado, começou por ficar muito aborrecido. Mas mudou logo de opinião e quando gravou o disco seguinte já tinha aderido ao estilo "eléctrico". E foi a rara versão acústica de "Sounds of Silence" que ouvi ontem, pela primeira vez, no Cine Teatro João Mota: um bónus a somar a um filme que também apreciei muito.
Versão "ao vivo" de Sounds of Silence. Começa no estilo doce da gravação original, mas desenvolve-se com a batida forte e a estridência típica do folk-rock eléctrico.
Auto-retrato de Leonore Mau com imagem de Hubert Fichte.
Em 1964, Leonore Mau e Hubert Fichte estiveram em Sesimbra onde tiraram fotografias e filmaram o dia a dia dos pescadores. Em 1968 Fichte montou um filme de 9 minutos, com base nas suas filmagens, a que adicionou comentário verbal: "Der Fischmarkt und die Fische" ("O Mercado do Peixe e o Peixe"). O filme de Fichte e as fotografias de Leonore Mau são usualmente apresentados em conjunto, como aconteceu em Dezembro passado, em Londres, no Goethe-Institut. Talvez o Arquivo Municipal possa obter cópia do filme e das fotografias, os quais, para além do seu valor cultural, representam certamente documentos de grande valor sobre a vila de Sesimbra e a sua história. O mesmo se pode dizer do documentário feito pela RTP quando Elis Regina esteve em Portugal e que inclui numerosas imagens filmadas em Sesimbra: na doca, na marginal e no castelo; ainda recentemente o filme foi emitido pela RTP memória. «O escritor alemão Hubert Fichte nasceu em 1935 e faleceu em 1986, pouco antes de completar 51 anos. Meio judeu, bastardo e bissexual, foi internado durante a guerra num orfanato que descreveu no livro "O Orfanato". Fez estudos de agronomia e de teatro e a partir de 1965 tornou-se escritor conhecido. Viajou por diversos países, começando pela França, Portugal e Suécia e dominou quase todos os idiomas ocidentais. Produziu uma série de programas de rádio e realizou entrevistas com personalidades internacionais importantes, como líderes políticos, escritores e artistas. Fez diversas viagens por países da África e das Américas, tendo conhecido o Brasil, onde esteve durante longos meses em 1968; 1971 e 1981/82. Interessou-se pelo estudo das religiões afro-americanas, de plantas medicinais, de etnomedicina e pelo tratamento de doenças mentais. Revelou à etnografia a quebra de consciência pelo uso de ervas em rituais iniciáticos de cultos afro-americanos. Viveu até a morte com a fotógrafa Leonore Mau, que conheceu em 1950, foi sua companheira de viagens e com quem publicou alguns livros ilustrados sobre religiões afro-americanas.» (Sergio Ferretti).
Aspecto actual da zona do ribeiro de Palames que aparece na fotografia de baixo. À direita encontra-se a urbanização que ficou conhecida pelo nome da empresa construtora: "Erg". À esquerda outro bloco de apartamentos, que herdou o nome do ribeiro: Palames. A água do ribeiro ainda chega à Prainha, conforme se pode ver aqui.
Campismo próximo da Prainha e junto ao ribeiro de Palames. Este ribeiro, assinalado por uma linha de canas e outra vegetação, encontra-se actualmente tapado; a faixa onde se encontram as tendas é agora uma estrada, ladeada por blocos de apartamentos. Na Prainha é visível a Pedrancha (blocos de pedras que a maré cobria) e o passadiço do Alcatraz, agora permanentemente coberto por areia. O Morro do Alcatraz, por outro lado, tem hoje mais vegetação do que tinha nesta altura.
Sesimbra, por fora e por dentro: as grutas, a fauna cavernícola e a sua ecologia
Ana Sofia Reboleira, Fernando Correia
"Povoadas por inúmeras lendas e mitos, as grutas são cápsulas do tempo que conservam importantes registos para a construção da nossa identidade, dado que os seres humanos aqui se abrigaram nos princípios da humanidade e deixaram vestígios pré-históricos para memória futura da sua presença", explica Sofia Reboleira. "Mas, talvez mais importante que o passado, é dar a saber que estas albergam hoje estranhas formas de vida, permitindo reinterpretar a história da vida na terra e de como ela se transforma para sobreviver em ambientes tão inóspitos e extremos.", afirma ainda a especialista em fauna cavernícola.
"Exatamente por o tema ser tão singular e estranho, tivemos especial cuidado em criar e estruturar esta obra segundo uma linguagem acessível e motivadora, embora funcional e construtiva no edificar de um saber especial", argumenta Fernando Correia. O responsável pela ilustração da obra salienta: "Fizemos um grande esforço para que isso mesmo sobressaísse quer no discurso escrito, quer ao nível visual, por forma a impulsionar a leitura, e, de caminho, ajudar também a promover a exploração do concelho sob outros olhos. Procurámos construir um livro que cativasse e ensinasse de forma entusiástica — mas sem que pareça uma lição ou sem perder a necessária objectividade e correção científica — e onde a forma como se divulga a Ciência mais atual seja a adequada para a multitude de públicos a que a destinámos."
Além do especial cuidado dedicado ao texto escrito por ambos os biólogos (que contempla várias investigações desenvolvidas no concelho), foi feito um grande esforço para ilustrar profusamente o livro com imagens também inéditas, fotografias e ilustrações, esteticamente interessantes e sumamente didáticas (ao qual se adiciona um design sóbrio, mas fluido).
De realçar que as ilustrações são ilustrações científicas e, como tal, criadas propositadamente para complementar e, às vezes, suplementar, o discurso científico da obra, tornando-a, na perspectiva de um todo, muito mais completo e instigante à descoberta.
Os homens do mar de Sesimbra são sábios. Sempre souberam transmitir o seu conhecimento aos aprendizes atentos, aos capazes,
como escreveu Álvaro Ribeiro, de aceitar a audiência antes da evidência. Grau a grau, ou degrau a degrau, se ascende de moço a arrais, passando por companheiro.
Rafael Monteiro
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Gama, Cão ou Zarco
Não nasceram aqui.
Quem nasceu aqui foi o barco.
António Telmo
Marés em Sesimbra / Tide table [ mare.frbateaux.net ]
Fotos TrekEarth Photos.
Pesqueiros de Sesimbra (fishing sites)