ll

quinta-feira, dezembro 29, 2005



José Pinto Braz, fundador do Hotel Espadarte e grande dinamizador da pesca desportiva em Sesimbra, mostra o tipo de anzol utilizado na pesca do espadarte. (Fotografia de um folheto de publicidade à "pesca grossa" em Portugal)
[ clique na imagem para ampliar ]

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Trapo Azul

O escritor Romeu Correia, natural de Cacilhas, casou, em 1942, com Almerinda Correia, de Sesimbra, onde nasceu a 9 de Março de 1920, e que se destacou como desportista. Na década de 40 o casal cria no Almada Atlético Clube um núcleo de raparigas praticantes de atletismo, o que provocou algum escândalo, pois não era hábito ver-se raparigas a praticar desporto, vestindo camisolas de manga curta e calções de meia perna. Almerinda recebeu a Medalha de Ouro da Cidade de Almada, por mérito desportivo. Destacou-se no lançamento de peso, disco e dardo, modalidades em que foi por várias vezes campeã nacional, mas brilhou igualmente noutras modalidades, tais como corridas e saltos. O seu nome foi atribuido a um prémio anual que distingue os melhores Atletas do Almada Atlético Clube: "Medalha Almerinda Correia", e após a sua morte, a Câmara Municipal deu o seu nome a uma rua do Concelho de Almada.

O primeiro romance de Romeu Correia, "Trapo Azul", publicado em 1948, retrata a vida de uma família de Sesimbra, que mais tarde se desloca para Almada. A personagem principal é Laurinda, filha de um guarda-fiscal, que se torna costureira na vila à beira Tejo. O "trapo azul" era a ganga de que se faziam os "fatos-macaco" para os operários e outras profissões.

A primeira edição deste romance foi feita a custas do próprio autor, mas o sucesso propiciou uma segunda edição em 1953, pela Guimarães Editores, tendo Romeu Correia aproveitado para fazer algumas modificações no texto.

Foi talvez através da sua mulher, Almerinda Correia, que o escritor se interessou pela vila piscatória, ao ponto de ter dedicado a Sesimbra uma boa parte do romance "Trapo Azul", do qual transcrevemos o seguinte trecho, onde Laurinda fala sobre o mar e os pescadores de Sesimbra:

   O mar...
   De colo, já o ouvira bramir, a açoitar as rochas e a muralha da Fortaleza. E as vagas lambiam a areia, deixando, no regresso, castelinhos de espuma. As mulheres da vila sabiam-no leviano e temiam-no como a boi tresmalhado. Ao menor receio, afluíam à praia, desaustinadas, de mãos enclavinhadas, a dobar orações...
    - Deus nos ampare! Ele tá mau, vizinha Alice! Hoje, rebenta grande desgraça!
    Minha mãe, nascida e criada entre peixe e lágrimas, compartilhava da inquietação. E até nas casas burguesas, sem a vida dos seus a perigar na voragem das ondas, acendiam velas e lamparinas, lembrando clemência à Virgem.
    Duma vez, um barco naufragara já a curta distância da vila. Impotentes, o horror estampado nos rostos, as famílias dos tripulantes gritavam pelos entes queridos - pontos aflitivos, teimosos de vida, a encimar as cristas das ondas. A rebentação quebrara-lhes os remos, o casco do barco furara-se na queda de uma vaga - e daí à submersão fora o tartamudear de uma reza. Só um milagre do Senhor podia amparar os náufragos. E não tardou um clamor de mil bocas:
    - Vão buscar o santinho à igreja!
    - Não demorem, ó gente! Corram! Corram à igreja!
    Num assomo de fé, uma avalanche humana escancarou as portas do templo, e em breve o Senhor das Chagas desceu à praia, ali à nossa beira.
    Joelhos na areia, braços erguidos ao andor, dedos cruzados nas mãos unidas, o sal das lágrimas babava as bocas, gementes:
    - Tem piedade de nós, Filho de Maria! Piedade! Salva-os, plas tuas Cinco Chagas!
    O céu era todo uma negridão de nuvens. Vento inclemente, irado, fustigava os cabelos, o mísero corpo do Senhor... Caiu a noite e, com ela, as nossas esperanças, mas ainda todos pediam, esperavam. Vieram archotes para a praia, de chamas sanguíneas, sinistras, quando uma vaga arremessou um cadáver à areia; depois outro, e outro, e outro...
    E, nessa noite, o Senhor das Chagas ficou mais junto do meu coração: de tão humilde, tão pobrezinho, nada pudera contra a fúria do mar!
   Nos dias seguintes, lá vi os homens na faina da pesca - perdoar era a palavra que o pessoal das companhas decorava desde meninos. O mar, que desobedecera ao Senhor, tisnando de luto mulheres e crianças, tinha também o privilégio de alegrar a praia com pescarias avultadas. E, quando alguém, enfurecido, lhe praguejava rancores, logo inquietava ouvidos próximos:
    - Cala-te, alma do diabo! Ele pode castigar! É ele quem dá o pãozinho à gente!...
    Bem cedo compreendi que estava escrito no mar o destino dos habitantes da vila! Dolorosas tardes, quando as armações aportavam vazias e um peso de fome curvava os homens e as companheiras! Corria, então, como que um jeito de desprezo pelas artes, que, agoiradas, nada tinham podido arrancar às entranhas do avarento. E o peixe miúdo, lixo das redes, petinga rejeitada por vagabundo, lá apodrecia, esquecido na areia - despojo inútil de canseiras perdidas.
    Com a chegada do estio vêm também os banhistas, trajando à fresca, molengões, ciosos de banhas perdidas no sedentarismo citadino. Enchem pensões, alugam quartos e partes de casa a particulares. A vila, então, desempenha-se e repousa de martírios. E, nas águas serenas, mar chão, coalhado de maillots multicores, poucos reconhecem a besta traiçoeira, assassina - arrependida talvez das grandes faltas cometidas.
    Sim, no mar está escrito o destino das raparigas da vila!...
    Casar com pescador é amarrar corda ao pescoço, é viver eternamente com a borda debaixo de água. E bem poucas têm o condão de fugir a tal sina... Conseguir noivo no Comércio, nos Serviços Públicos ou nas casas de teres - é meter lança em África. Sobram os pescadores...

Romeu Correia
"Trapo Azul" (1948)

sábado, dezembro 24, 2005

Califórnia

O Blogo Social Português, comentando uma afirmação do professor Cavaco Silva ("No passado, Portugal foi um País de sucesso. Dizia-se mesmo que Portugal era a Califórnia da Europa. Porque é que não podemos voltar a esse tempo?"), escreve:
"Caro professor, também eu gostava de voltar a esse tempo, em que a falésia da praia da Califórnia (que é hoje simplesmente a praia da Sesimbra) ainda estava livre de mamarrachos e hóteis de gosto duvidoso. É que o sítio onde hoje estão esses edifícios, no tempo desta fotografia estavam lindas Tabaibas endémicas (Euphorbia pedroi, espécie que em todo o mundo apenas existe nas escarpas do Cabo Espichel, desde o Cabo até à escarpa Califórnia). Também eu gostava de voltar ao tempo da Califórnia da Arrábida em estado natural."
E publica uma bela fotografia da planta:

Fotografia do Blogo Social Português
[ clique para ampliar ]

domingo, dezembro 18, 2005

Boa Viagem!


Momento em que a "Nossa Senhora da Aparecida" dava início, ao princípio da tarde de hoje, da sua viagem em direcção a Porto Seguro, no Brasil.


A tripulação: Nuno Pinheiro de Mello, Ricardo Ribeiro Couto, João Bustorff Burnay, Alexandre de Souza e Holstein.


O grupo "Nova Galé" esteve presente na cerimónia da partida, onde interpretou uma nova canção, da autoria de Reinaldo Nunes, sobre a aventura da barca "Nossa Senhora da Aparecida". A cerimónia decorreu no Clube Naval de Sesimbra, presidida pelo sr. Presidente da Câmara.


Acácio Vidal Farinha, o carpinteiro naval que, com o seu filho Rui, procedeu à recuperação da barca, também esteve presente na cerimónia.


Uma pequena frota, onde se incluía uma outra barca de Sesimbra - a barca "Santiago" - acompanhou a "Nossa Senhora da Aparecida" durante as primeiras milhas. Na saída do porto recorreu ao motor auxiliar, mas içou as velas logo que passou o pontão. A próxima escala está prevista para Tenerife, no próximo dia 25 de Dezembro.

Boa Viagem para a Nossa Senhora da Aparecida!

[ clique nas imagens para as ampliar, fechando cada "janela" antes de abrir a seguinte ]

sábado, dezembro 17, 2005

Rumo ao Brasil!

É já amanhã, Domingo, dia 18, às 12 h, que tem início a viagem da barca "Nossa Senhora da Aparecida" rumo ao Brasil.

Na página Rumo ao Brasil informa-se que as pessoas interessadas em assistir à partida "deverão dirigir-se para o pontão do molhe, junto ao farol por trás da sede do Clube Naval de Sesimbra, onde poderão visualizar a partida da Barca que está atracada na marina do Clube Naval de Sesimbra.

"O Sr. Presidente da Câmara de Sesimbra fará a entrega oficial à tripulação do painel de azulejo com a imagem da Nª SR.ª da Aparecida da autoria do sr. Arq. João de Sousa Araújo, que será entregue ao Perfeito em Porto Seguro.

"Cerca de 1 hora antes, os tripulantes dirigem-se para a embarcação para os últimos preparativos. No momento da partida, os tripulantes lançam um "foguete" e são acompanhados (até cerca de 2 milhas) por alguns pescadores, as crianças alunas da classe lazer do Clube Naval de Sesimbra e todas as embarcações locais que assim o desejarem."

De acordo com notícia do jornal "Correio da manhã" (ler aqui):

"A bordo seguem quatro homens: Alexandre Souza e Holstein, patrão da costa e piloto aeronáutico (40 anos); Ricardo Ribeiro Couto, patrão de vela e motor e apanhador de mariscos (39); João Bustorff Burnay, patrão de alto mar e a trabalhar na produção de filmes (46); e Nuno Pinheiro de Melo, operador de câmara (38). Adquirida há três anos por Souza e Holstein num estado deteriorado, a embarcação foi construída em 1961 no antigo estaleiro de Sesimbra de Joaquim Silvestre Farinha. Durante os dois últimos anos, a barca foi alvo de restauro, missão dirigida pelo mestre Acácio Vidal Farinha.

"Arquétipo das antigas caravelas de pesca dos séculos XIII e XIV, esta embarcação era mais conhecida pelos nomes ‘barca de Sesimbra’ ou ‘barca do alto (mar)’. Mais pequena do que uma caravela de pesca, desconhece-se se, no passado, chegou a ir ao Brasil. A chegada a Porto Seguro está prevista para 4 de Fevereiro.

"Apesar de a viagem seguir a rota original de Pedro Álvares Cabral, a tripulação conta com equipamento sofisticado. No entanto, durante a travessia do Atlântico, apenas serão utilizadas as velas da embarcação. Respeitando o estilo tradicional, o conforto e a funcionalidade integram-se e respondem às necessidades e exigências actuais da tripulação para os mais de dois meses de viagem. O espaço é exíguo mas não falta nada."

A viagem poderá ser acompanhada na Internet através da página:

Rumo ao Brasil


Especificações
 Tonelagem:9,45 tm
 Calado: 1,00 m
 Pano: 50 m2, com 3 velas:
     carangueja, estai e bujarrona
98 m2, com 2 velas:
     carangueja e spinaker assimétrico
 Comprimento: 11,00 m
 Boca: 3,20 m
 Pontal: 1,14 m











Notícia da TVI
Ficheiro mpeg
clique ou copie o seguinte endereço para o leitor virtual:
http://www.portugalrumoaobrasil.com/imagens/Video_tvi.mpg

Aguarelas de Turner|  O amor pelas coisas belas |  Angola em Fotos  Aldrabas e fechaduras| Amigos da Dorna Meca| Amigos de Peniche| André Benjamim| Ao meu lado| Arrábida| (flora) Arrábida| (notícias) Arrastão| @tlanti§| Atlântico Azul| Atitude 180| Badamalos| Banda da SMS|  Barcos do Norte | B. dos Navios e do Mar| Blasfémias| Blue Moon I|  Boa Noite, Oh Mestre! | Canoa da Picada|  Carlos Sargedas |  Caminhos da Memória |  Catharsis |  Caxinas... de Lugar a freguesia  | Cetóbriga| Clube Leitura e Escrita| Coelho sem Toca| Cova Gala|  Crónicas de 1 jornalista | De Rerum Natura|  Desporto Saudável | Dias com Árvores| *** Dona Anita ***| Do Portugal Profundo| El mar és el camí| Espaço das Aguncheiras| Estórias de Alhos Vedros|  Estrada do Alicerce | Expresso da Linha|  Filosofia Extravagante | Finisterra| Flaming Nora| Grão de Areia| Gritos Mudos| Homes de Pedra en Barcos de Pau| Imagem e Palavra| Imagens com água| Imenso, para sempre, sem fim| O Insurgente| J. C. Nero| José Luis Espada Feio|  Jumento  Lagoa de Albufeira| Mar Adentro Ventosga| Magra Carta| Marítimo| Mil e uma coisas| Milhas Náuticas| Molino 42| My Littke Pink World| Nas Asas de um Anjo| Navegar é preciso|  Navios à Vista |  Nazaré | Neca| Nitinha| Noites 100 alcool| Nós-Sela| Nubosidade variabel| O Calhandro de Sesimbra|  Orçadela | Página dos Concursos| Pedras no Sapato|  Pedro Mendes | Pelo sonho é que vamos| Pescador| Pexito do Campo|  A Pipoca mais Doce | Ponto de encontro| Portugal dos Pequeninos|  Praia dos Moinhos |  Quartinete | Reflexus| Rui Cunha Photography| Rui Viana Racing| Rumo ao Brasil|  Ruy Ventura | Sandra Carvalho| Sesimbra arqueológica|  Sesimbra Jobs |  Sesimbra Jovem |  Sesimbra, três Freguesias, um Concelho| Se Zimbra|  Simplicidade | Singradura da relinga| Skim Brothers| Sonhar de pés presos à cama|  Tiago Ezequiel |  Tiago Pinhal |  Trans-ferir | Una mirada a la Ria de Vigo|          Varam'ess'aiola |  Ventinhos |


Canoa da Picada