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domingo, julho 23, 2006

Mau jornalismo

A edição de hoje do jornal "Público" inclui um dossiê sobre o Parque Natural da Arrábida (páginas 54 e 55), a propósito dos seus 30 anos, os quais vão ser comemorados, pelo Instituto de Conservação da Natureza (ICN), em... Olhão.

Sob a aparência da uma neutralidade jornalística, o texto encontra-se contaminado por um forte subjectivismo, favorável às entidades governamentais (ICN e direcção do Parque) e crítico de todos os que "ousam" criticar o PNA e o seu plano de ordenamento (POPNA).

Apenas alguns exemplos: nas palavras da jornalista que assina o texto, é dito que "a convivência saudável entre os valores naturais e a presença humana é o objectivo da direcção do ICN e, mais recentemente, do POPNA". Ou seja: isto é apresentado como um facto. Porém, quanto às autarquias que contestam o POPNA, eis o que escreve a jornalista: "sobre as câmaras municipais paira, porém, a suspeita de que estes argumentos [contra o POPNA] escondem outros propósitos menos nobres: a vontade de deixar construir mais na Arrábida."

Alguma da manipulação jornalística desta peça recorre a efeitos subtis, mas não há nada de subtil na única frase que traduz a posição dos pescadores afectados pelo POPNA, também apresentada como factual: "Os pescadores também abriram guerra contra a direcção do Parqe depois de perceberem que as restrições à pesca são para cumprir".

Bastava à jornalista ter consultado, no arquivo do seu jornal, as inúmeras notícias sobra a contestação dos pescadores ao POPNA, para compreender que:
a) a contestação não se dirige à direcção do PNA, mas sim ao regulamento do Parque, e contra a sua publicação pelo governo - e, depois, pela sua revogação. E talvez nem necessitasse de consultar o arquivo: foi a mesma jornalista que escreveu a maioria dessas notícias.

b) a contestação começou muito antes da publicação e aplicação do regulamento e, por isso, não pode estar relacionada com a percepção de que as restrições às pesca seriam para cumprir.
A frase da jornalista relativa à posição dos pescadores é, sim, uma frase assassina, que transmite a ideia de existe uma posição oportunista da parte dos pescadores, incumpridores da lei, que só se movimentaram quando se aprerceberam que "era para cumprir".

Esta mesma jornalista escreveu no "Público", em 15 de Julho de 2004, um artigo em que transcrevia as seguintes palavras da directora do PNA sobre a preparação, nessa altura em curso, do POPNA, para posterior aprovação pelo governo: «Uma das hipóteses é fasear as restrições, nomeadamente ao nível da pesca no Parque Marinho, e definir medidas de compensação para os pescadores. "Devemos proteger primeiro uma área mais problemática e aguardar que as pessoas adiram ao regulamento, percebendo as mais valias que ele traz."». Seria bom que a jornalista, numa próxima oportunidade, inquirisse a senhora directora do PNA sobre o paradeiro dessas medidas de compensação aos pescadores, bem como o esclarecimento dessa política de faseamento das medidas para levar as pessoas a "perceber": será que essa estratégia está a resultar? E quando é que aumentam as restrições?

2 Comentários:

Às 24/7/06 , Anonymous Anónimo disse...

Que tal o João enviar este post, através de link ao "Público". Era justo.

 
Às 26/7/06 , Anonymous Anónimo disse...

Só um coment? Realmente o POPNA só serviu para o que se viu.

 

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