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segunda-feira, maio 22, 2006

Imigrantes do limo


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Fotografei esta família na zona do Cabo Espichel, há muitos anos. Era no tempo em que a apanha de algas constituía um negócio florescente, sendo feita por recurso a vários métodos: mergulho de escafandro (em geral, não autónomo), arrastado da superfície directamente para bordo, ou ainda apanhado à mão nas praias para onde o mar o atirava.

Este último método era o menos produtivo, mas não obrigava a qualquer investimento, nem em barco nem em equipamento de mergulho, pelo que atraía alguma mão-de-obra mais desafortunada, como era o caso desta família de imigrantes do limo, que vivia numa barraca de colmo.

3 Comentários:

Às 22/5/06 , Blogger Joao Augusto Aldeia disse...

É verdade. Lamentavelmente não existe investigação que permita determinar a influência das causas potenciais sobre a "desertificação" da costa sesimbrense, mas a intensidade da apanha de algas, numa plataforma que é muito estreita, apanha essa concentrada nas algas vermelhas (Pterocladia e Gelidium), contribuiu certamente para o desastre.

Foi um exemplo de uma actividade económica que pouca prosperidade deu à vila, e que em poucos anos ajudou a desertificar a costa.

 
Às 23/5/06 , Anonymous Anónimo disse...

Que saudades dos camiões com fardos de algas que passavam pela zona rural deixando aquele intenso aroma a mar, a iodo (quando ainda se usava, para tudo, tintura de iodo. Agora é mais Betadine!).

Que saudades dos limos e do chamado "golf" (de certeza que está mal escrito, mas é a palavra que ainda hoje ouço!)quando mergulhávamos, ao final da tarde, no passadiço! ´

Que saudades dos risos verdadeiros ao vermos as estrangeiras com a cara repleta de limos verdes, na altura uma máscara de beleza infalível!

Quem se lembra da Praia do Ouro com um tapete de meio metro de altura de limos, com aquele cheiro tão característico?

Como está essa memória olfativa?

 
Às 24/5/06 , Blogger Joao Augusto Aldeia disse...

O cheiro saturado a iodo das algas evoca, sem dúvida, as grandes quantidades de algas que se acumulavam na praia em certas alturas do ano. No entanto, a memória desses camiões de algas evoca também o processo de destruição dos fundos marinhos da nossa costa.

Também me recordo de nadar sobre ãs grandes "plantações" de golfo, que se prolongavam até à superfície, não só na Passagem mas por toda a costa: praia do Ribeiro do Cavalo, Mijona, etc. Na base, essas plantas possuíam uma estrutura carnuda e oca no interior, onde proliferava uma miríade de pequenos organismos. Recordo-me bem d eum entretimento de miúdo que era o abrir os golfos que davam à praia, para observar esses pequenos organismos.

Os golfos, segundo creio, não foram objecto de comércio, mas é provável que a apanha das algas vermelhas até quase ao seu desaparecimento tenha contribuído para a rarefacção do golfo, dada a ecologia dos sistemas marinhos.

 

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