Que nome darei à minha barca?
Que nome darei à minha barca tão dos homens cansada, jamais do mar? A maré, e as outras marés da minha vida, ora leves, ora em alta vaga, vão e vêm devagar - abandonando-me às horas que demoram, e já partem, como se fossem uma pálida luz que não deseja ser vista para que possa durar um pouco mais. Também a barca do meu corpo, velha, aterrada, se ajusta ao cais obscuro da sua nova morada. A outra, a que me serve de jangada, ganha-pão e sepultura, pede-me que a pinte mais uma vez E ela não espera, ela não obedece à seca emoção do seu arrais. Que nome darei à minha barca dos homens tão cansada, jamais do mar? Nossa Senhora do Homem Só lhe vou dar. |
Casimiro de Brito
Fragmento 16 do Livro das Quedas
Lisboa, Julho de 2001
in "A Meu Ver", de Carlos Pinto Coelho
Escrito como legenda para uma fotografia de Carlos Pinto Coelho em que se vê um homem a pintar uma barca de Sesimbra e onde se divisam, como início do nome da barca, as iniciais "N. S."
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