Diário de Bordo da "N.S. da Aparecida"
Reconstituição da rota (clique para ampliar)
No dia 28 de Dezembro zarparam de Setúbal, tendo encontrado golfinhos ao largo e Sesimbra (às 17 h), fazendo de noite entre 4 e 6 nós. O mar alteroso, no entanto, provocou algumas cambadelas. "O estado de sonolência vegetal é geral a toda a tripulação que não obstante vai realizando as tarefas necessárias ao bom andamento da empreitada."
No dia 29 de Dezembro, depois de um "nascer do sol maravilhoso", navegaram com a vela grande, embora o mar ainda estivesse desencontrado devido à mudança recente da direcção do vento. "O estado geral ainda é caracterizado por alguma falta de iniciativa originado seguramente pelo cansaço físico. A noite manteve-se com visibilidade e o vento certo para encher a vela grande, proporcionando um andamento a 3/7 nós sem grande esforço.
Posição às 13h30: 3657N 00957W.
No dia 30 de Dezembro o vento desapareceu pela madrugada e, depois de esgotadas todas as combinações de velas possíveis, foi ligado o motor como auxiliar de energia. Foi encontrada a solução para os problemas que se tinham detectado na refrigeração do motor. Começam agora a aparecer os primeiros sinais indicadores de alguma estabilidade físico/psíquica - mas no Diário de Bordo surgem algumas referências à possibilidade de algo correr menos bem. Vão-se cruzando com grandes navios, obrigando por vezes a manobras evasivas.
Posição às 14h00: 3551N 1047W.
No dia 31 de Dezembro a temperatura começa a subir, o vestuário aligeira-se e os ânimos sobem. Revela-se que o mecânico Adorindo (ou o filho ?) "chegou a pensar que também vinha na viagem e até hoje ninguém lhe disse que não era para vir". Ouviu-se musica trance e abriu-se o danceflor. Uma chamada prevista de uma estação de televisão não se confirmou, pelo que "a repórter da tal estação TV agora enfrenta a concorrência desmedida de Hanna, que é a mascote insuflável".
Posição às 12h00: 3458N 1130W.
No dia 1 de Janeiro o vento rodou para Norte e aumentou de intensidade. A barca está muito pesada e precisa de motor para andar naquele mar.
Posição às 14h00: 3353N 1220W.
No dia 2 de Janeiro: Posição: 3211N 01304W. A ondulação, que antes era de vagas tipo "carrossel", cresce para "montanha russa", entrando as vagas por trás. O governo da barca levanta problemas: "é do mais difícil que conheço porque o hidráulico do leme, não sei porque razão, é muito desmultiplicado, o que implica grandes rotações da roda de leme para pequenos desvios, obrigando o operador a antecipar-se nas manobras, o que é particularmente difícil quando se navega à popa arrasada com a vela grande."
Faz-se o balanço do mar percorrido (ver mapa acima):
"Estes barcos de madeira, do tempo da madeira barata, têm um comportamento muito delicado devido também às suas formas e tem muito caché e os ruídos que resultam do seu contacto com as águas são simpáticos e também e só quando olho pela vigia me apercebo do movimento mirabolante em que estamos inseridos."
A ondulação à passagem de um banco aos 84m fez alguns estragos, nomeadamente um garrafão de 5L azeite entornado assim como diversos alimentos embalados e a granel.
No dia 3 de Janeiro a posição é de 3038N 01401W. A viagem continua a bom ritmo: "a sensação é de que estamos a apanhar uma boleia oferecida pelo conjunto dos elementos e que estamos a aproveitá-la ao máximo, pois também sabemos que a situação de forte agitação marítima que deve estar por Finisterra cedo estará por estas bandas e temos ainda 180 milhas até Tenerife."
Devido a rajadas periódicas reduzem o pano:"Toda esta noite prosseguiu alternando períodos em que a barca estabilizava (2 ou 3 minutos) e depois se tornava naquilo que se pode esperar do interior duma máquina de lavar, correndo todos os programas."
No dia 4 de Janeiro: posição - 2928N 1452W. "A vida decorre com descontracção e não está ausente o facto de que menos de 100 milhas nos separam da terra firme". Animais avistados durante a viagem: uma baleia de grandes dimensões a avaliar pelo tamanho da gruta da qual parecia vir o seu arfar, aos 3 dias de viagem, 1 tartaruga, 1 espécie voadora com cerca de 1kg, de cor branca com gravata preta que voava contra o vento e ficou a pairar sobre a barca tentando adivinhar o que seria aquilo e vários bandos de golfinhos".
Finalmente. "Terra à vista!" Às 24h00 avistam os clarões de algumas ilhas e é identificada a de Tenerife. "A aproximação à Ilha e depois ao porto foi como a cena de algum filme épico de que não recordo o nome, revelando a "Aparecida" toda a sua pujança ao largo e a todo o pano, com ondulação larga pela alheta. Nestas condições, e a governar com cana de leme, como já fazemos há uns dias, a barca exprime toda a sua personalidade e nós ficamos contentes por isso."
Posição no dia 5 de Janeiro: 2828N 1414W (Sta. Cruz de Tenerife).
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