Memória de Sesimbra
Augusto Manuel Dias é o autor do blogue Klepsidra, anteriormente A Questão Continuada. Ali encontramos reflexões muito interessantes, quer sobre episódios do passado, protagonizados pelo autor, quer sobre temas históricos e outros.
Em dois textos que vale a pena ler (aqui e aqui) Augusto Manuel Dias recorda o tempo da sua infância passado em Sesimbra e transmite-nos um quadro vivo e emocionado da vida sesimbrense, particularmente acerca daa actividades da pesca, que então dominavam o dia-a-dia da vila. Alguns excertos:
«Após os meus pais me deixarem em casa dos tios, e regressarem a Lisboa, a primeira coisa que fazia era descalçar os sapatos para só os tornar a calçar dois meses depois. Descalço e em calção de banho de manhã à noite, com liberdade completa de movimentos, era a criança mais feliz que se possa imaginar. O mundo era todo meu.
Este mundo era o mundo do mar e do peixe. Hoje com a escassez que existe é difícil de imaginar a quantidade de peixe que todos os dias era descarregado na praia para venda.
(...)
Das duas lotas a que mais gostava de participar era na da tarde. Na da manhã limitava-me a ir levar o pequeno almoço ao meu tio por volta das oito horas, uma leiteira e um pão com manteiga.
A lota da tarde, além de mais longa, tinha um encanto muito especial para mim. Depois de cair a noite, por falta de luz artificial, era iluminada com a luz de archotes. É aqui que entrava a minha intervenção. Os archotes eram seguros pelos rapazes da vila, onde eu me incluía, apesar dos protestos do meu tio. Com os pés dentro de água, iluminava-mos a descarga a troco de uma mão cheia de peixe. Eu não precisava do peixe para nada, pois era coisa que não faltava em casa, mas dava-me um prazer enorme ver o meu trabalho recompensado, fazia-me sentir como se fosse um deles.»
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