Terra de Pescadores

Quando finalmente se diluem as formas e cores no negrume da noite que desce, e as ruas se vão, pouco a pouco, tornando desertas, o pescador, de regresso a casa, esquece a sua condição de simples anexo a uma gigantesca engrenagem - perante a qual não tem real valor - e toma consciência da sua existência individual e dos seus próprios problemas. Doloroso se lhe torna, por vezes. Doloroso, sobretudo, se regressa de mãos vazias ou com uma féria irrisória que não chega para cobrir a mais rudimentar subsistência.
Escasso contudo é o tempo que, em cada dia, lhe resta para si mesmo. Volvidas horas, regessa à faina com um sorriso ou uma praga a bailar-lhe nos lábios. Dura vida a que tem de viver. Difícil... mas sua - a única que escolheria, se, em dado momento, lhe fosse dado voltar atrás e escolher. "...E bonita, às vezes, pois então! Gostaria que visse colher o aparelho, com peixe-espada, em noites de luar. Parece dia!" - e nos seus olhos há mais que emoção ou alegria: há verdadeiro orgulho por ser homem do mar e pescador.»
Maria Alfreda Cruz
"Pesca e Pescadores em Sesimbra" - 1966
Fotografia reproduzida do livro (clique para ampliar)
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