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quinta-feira, maio 26, 2005

Os refugiados de Villa Cisneros


Em Agosto de 1932, durante a República Espanhola, um grupo de militares conservadores desencadeou, em Madrid e em Sevilha, um pronunciamento contra o regime republicano, acção que ficou conhecida como a "sanjurjada". Falhado o pronunciamento, 139 dos revoltosos foram deportados para Villa Cisneros, na costa africana (actual Ad Dakhla, no Sahara Ocidental).

Na madrugada de 1 de Janeiro de 1933, os deportados amotinaram-se e 29 deles conseguiram tomar de assalto o barco francês "Aviateur Lebrix", que utilizaram para uma audaciosa fuga que os trouxe até Sesimbra, onde foram bem acolhidos pela população, a 14 de Janeiro. Mantiveram-se em Portugal até que uma amnistia, em 1934, lhes permitiu o regresso a Espanha.

Aquando do seu desembarque, a população de Sesimbra dispensou-lhes "todos os carinhos e afectos," apesar do seu aspecto, ao princípio, ter causado algum receio. Alguns meses depois, a 26 de Maio, estes homens voltaram a Sesimbra para agradecer o modo como tinham sido acolhidos. Sabia-se agora que se tratavam de altas patentes e gente da nobreza espanhola, pelo que foi a vez de ficarem os pexitos altamente sensibilizados. Numa sessão solene que teve lugar no Salão Vila Amália, foram feitos discursos e lida esta poesia do sesimbrense Carlos Ducam:
O povo de Sesimbra, hospitaleiro,
A alma, sempre pronta a fazer bem,
Um dia despertou... Na praia alguém
Soltando um ai!... D'alívio derradeiro

E sem saber ainda o paradeiro,
Aonde a negra sorte os lançar vem,
Presente que este povo apenas tem
Do "bem" o sentimento verdadeiro!

Eis "vós", que o destino, a boa estrela,
Guiou a esta terra acolhedora,
Que toda a gente prende, só ao vê-la...

E hoje se confessa devedora
De gratidão eterna... sem merecê-la,
À vossa gentileza... que penhora!...
Mais tarde, um dos refugiados, o arquitecto Aristides Fernandez Vallespín, enviaria ao jornal O Sesimbrense outro poema sobre o mesmo episódio:
Pueblecito de nascimiento,
bello pueblo de mis amores,
Quando amanece, através del viento
a ti van mis recuerdos y mis dolores.

A ti va la sonata, dulce y temprana
del que atravéz de mares te presentió
y que en la mansedumbre de una mañana,
ante ti, pueblecito, se comovió.

Ya la tarde ha caido con sus tristezas
y en las sombras que envuelven sus ultimos adiós,
¡Pueblecito! te esfumas entre asperezas,
como joya olvidada...! Premio de Dios!
Entre os militares refugiados em Sesimbra, encontrava-se Ricardo Serrador Santés (1877-1943), que fez o discurso de agradecimento na cerimónia da Vila AMália. Veio depois a ter um papel de relevo na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), nas hostes franquistas. Depois da guerra foi comandante militar e responsável económico das Ilhas Canárias. Em Tenerife a conhecida "Ponte Serrador", cuja construção iniciou, deve-lhe o nome. Terminou a sua carreira militar no posto de General.

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