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Olinda Pinto Pedro, mais conhecida em Sesimbra como Olinda Café, é bisneta da famosa Eusébia Café, uma das mais activas na revolta popular que teve lugar há precisamente 119 anos. No dia 14 de Fevereiro de 1889 deveriam decorrer na Câmara as "sortes", sorteio para o serviço militar. Era uma obrigação pouco desejada, pois era longa, interrompendo a vida profissional de jovens que, nessa altura, já tinham anos de trabalho e família constituída. Normalmente os pescadores tinham a "regalia" de ir para a Marinha, mas uma nova lei determinara um segundo sorteio para a opção entre Exército e Marinha, o que gerara descontentamento. Além disso, corria na vila o boato de que havia manobras na Câmara para isentar um familiar de um dos responsáveis pelo sorteio. Uma multidão juntou-se no largo da Câmara; ainda se fez o sorteio da freguesia do Castelo, mas logo a seguir a revolta estalou: a Câmara e o edifício das Finanças (no topo do largo) foram invadidos; os responsáveis camarários e o pequeno contingente policial da vila fugiram pelos telhados. Os sinos tocaram a rebate, o telégrafo foi cortado, e as mulheres gritavam: «os nossos filhos já foram sorteados na nossa barriga [entre ser rapaz ou rapariga] por isso não têm que ser sorteados outra vez!». Uma grande fogueira foi acesa no centro do largo, onde se queimaram documentos e livros oficiais.
Idalina e Mariana, filhas de Olinda Café. |
Passados dois dias chegou a tropa e reforço policial. Nesta altura já muitos pescadores estavam ao largo nos seus barcos, ou escondidos nas "covas" das armações, como foi o caso de Eusébia Café. 40 pessoas foram presas e levadas a tribunal, entre elas a Eusébia Café. Os homens eram quase todos pescadores, sendo dois almocreves e um barbeiro. Ao fim de dois dias de julgamento foram ilibados e sairam em liberdade. Eusébia Café ficou conhecida como a "Maria da Fonte". Ficou igualmente na história o pescador Joaquim Braço Forte, que a alcunha do "Vara Real", ou "Pau Real", por motivos que não convém explicar aqui, ainda que não sejam difíceis de adivinhar. Mas o ingénuo juíz lembrou-se de perguntar ao réu pela explicação da alcunha, episódio que ficou famoso. Durante décadas o largo da Câmara foi conhecido como o largo do Vara Real.
Olinda Pinto Pedro, better known as Olinda Café, is the grand grand daughter of Eusébia Café, one of the leaders of the popular revolt that took place 119 years ago, in the Municipio square (the same depicted in the photo of the post below). In February 14, 1889, inside the Town Hall, officials were drafting youngsters by lot. But the parents, waiting outside, suspected of fraud, and the revolt exploded. Women shouted: "Our sons were already sorted in our bellies, [meaning: to whether become boys or girls] so they won't be sorted again!". Building stones and bricks were used to assault Town Hall and the nearby taxes house; lots of papers and books were burned during 2 days at the center of the square (tax ledgers, but also important historic documents). In the aftermath, 39 men and one woman — Eusébia Café — were imprisoned and taken to court, but in the end all were considered innocent. One of the accused had the nickname "Vara Real" ["Royal Stick", I better not explain the meaning — use your imagination...] but the naive Judge asked him to explain the meaning of the nickname in court. This scene made history. For many decades this place was known as the "Vara Real Square".
Eusébia Café Joaquim Galo, o Trinta António Aquilino Junior José Café Emídio Avelino José Pedro Pinhões José Gomes Aquilino Raimundo dos Anjos Josué Félix Cascais José Maria Pereira, o Sarilho Albano Joaquim Pimo de Carvalho Francisco Martins Luís Simplício, Cabeça Branca | Luís Café Carlos J. António, da Fortunata António Sanches Silvestre das Chagas Carlos Encantado António Ira Eduardo Augusto, Padeiro Francisco Pinto, o Gandaluxa José Pinto, do Convento Francisco Salitre João Herculano António Zacarias, o Porrito Adriano Covas, 15 Réis | Nepuciano Matuto Francisco José, o Guita Carlos Pinto, o Garrão Floriano Pinto João Faustino João Pinto Joaquim Borges Victor Joaquim Braço Forte, o Pau Real Joaquim Sanches José Joaquim Neto, o Reigota Luís Carapinha Manuel João Tomás José Cerqueira |
11 Comentários:
É sempre interessante conhecer certos episódios que se passaram na Vila.
Este povo de brandos costumes também sabe dizer NÃO! principalmente quando sentimos que os nossos filhos estão a ser prejudicados.
A really beautiful portrait and a very interesting post.
Tem autorização para publicação das imagens?
A Eusébia Café foi apanhada na Serra da Achada, ao fim de 2 dias...
O que eu acho mais curioso neste post é a ternura de J A Aldeia se lembrar de uma pessoa de idade avançada. Pelo caminho que a nossa sociedade portuguesa está a levar, é sempre de louvar quem lhes dê espaço para aparecerem. A mim, atitudes destas tocam-me muito.
Mas há ainda quem se preocupe com as fotos, se tem autorização ou não tem...
Fique descansado o caro anónimo que a publicação desta imagem foi autorizada. Sou disso testemunha.
Isto está bonito, está... Já temos aqui um suspeito (eu), um polícia (anónimo), uma testemunha presencial (anónima) e uma testemunha abonatória (obrigado, swt!) Agora digam lá: quem é que pode ser juíz numa causa destas?
eheheheheh
Já agora,a Olinda Café tem 3 filhos,seria justo uma referência ao outro filho...
O Marco Aurélio, casado com a Marília...
Achei curiosa a história sobre a Eusébia Café tambêm a conhecia através transmição oral por meu pai(já falecido)era avó paterna, portanto minha bisavó, penso que minha mãe ainda guarda uma foto que meu tinha como sendo da avó.
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