Assinalam-se hoje os 100 anos do assassinato do rei D. Carlos e do seu filho D. Luis Filipe. D. Carlos foi um pioneiro da oceanografia e apaixonado pelo mar, que retratou em pinturas de grande qualidade. O iate real frequentava muito as águas de Sesimbra, e era muito admirado pelos sesimbrenses. Preocupado com os efeitos da pesca de arrasto, D. Carlos chegou a mandar realizar aqui experiências científicas sobre essa pesca [ler mais]. | ∫ | 100 years ago, king Carlos I and his son Luis Filipe were killed in Lisbon. Carlos I was a pioneer of oceanography, and loved the sea, that he pictured in numerous paintings. His yacht sailed many times in Sesimbra Sea, where people really loved him. King Carlos even commissioned early scientific research (1902) in the coastal waters of Sesimbra, to assess the possible damage of trawler fishing [more about this]. |
«O Malaquias de Lemos contou que na véspera, em Vila Viçosa, o rei jogava com o príncipe. Era ao entardecer. Na chaminé um grande braseiro. Trouxeram-lhe uma carta. Para a ler melhor levantou-se, chegando-se à janela. Duas vezes a percorreu com a vista, e depois rasgou-a em bocadinhos, que atirou ao lume. Petrificou-se um momento, envolto na sombra... – El-rei não joga? – perguntou o príncipe. – Jogo, jogo... – Sentou-se, jogou, mas tão preocupado que quase não jantou nesse dia.
«Nem uma nuvem. “Tarde sem par” – escreveu Ramalho. – Linda tarde para uma bomba – exclama uma menina da alta, na ponte da estação. Havia, é natural, um certo receio, e a duquesa de Palmela, ao ouvido de João Franco: – Não haverá perigo? – V. Exa. vai ver que ovação! – Tinha-lha preparado para a récita da noite, em S. Carlos. O rei e a rainha detiveram-se uns minutos, com o João Franco e o Vasconcelos Porto, que queria mandar vir um esquadrão de cavalaria para acompanhar o rei. D. Carlos opôs-se. O carro descoberto partiu a chouto, com toda a família real junta. Ao pé da estátua, um grupo... Disseminados pela Arcada, alguns polícias e, sentado num banco da praça, um homem de varino, que veio, sem precipitação, colocar-se à porta do Ministério do Reino.
«Os empregados da Fazenda tinham-no notado. Seria um bufo? Os bufos eram tantos, que se não conheciam uns aos outros. – "Eu assisti – diz o Navarro. – Fui para lá uma hora antes fumar o meu charuto. Três descargas cerradas partiram da Arcada do Ministério da Fazenda. Ficou tudo desorientado. Os polícias deitaram a fugir..." Um negociante da Rua de S. Julião teve de os sacudir da escada. "Eu estava a quatro passos – confirma o pintor Melo. – Um homem subiu às traseiras do carro, olhou o rei cara a cara e deu-lhe um tiro de revólver. Vi um fumozinho branco sair-lhe do pescoço. O rei voltou-se e, cem anos que eu viva, nunca mais me esquece a expressão de espanto daquela máscara. Disse uma palavra que não percebi bem..."»
Raul Brandão, Memórias
5 Comentários:
Não se mata um Rei que ama o mar.
Parece que, hoje, olham o oceano com um pouco de desdém e quando não o fazem pensam somente nele como fonte de lazer.
Bem haja o Rei D. Carlos que arregaçou as mangas, estudou os recursos da costa marítima portuguesa não se coibindo de falar com os pescadores das pequenas comunidades.
É um exemplo a seguir.
Gostei muito! Sem mais comentários...
Obrigado. Entretanto acrescentei mais algumas linhas na pequena referência à ligação do rei D. Carlos a Sesimbra.
uma merecida homenagem!
desde D. Carlos nunca mais nenhum governante se preocupou A SÉRIO com o nosso mar... dizem todos muitas coisas, mas fazê-las... NADA!!!
e o pior é que até conseguem deitar fora o que alguns, poucos, tentam começar a fazer... se ao menos dessem seguimento, mesmo que fosse devagarinho chegaríamos a algum lado
Garina do Mar: está a esquecer-se que Salazar desenvolveu todas as Marinhas (de Guerra, Mercante, Pesca; só a de recreio é que passou ao lado) como mais nenhum desde o Marquês de Pombal. Basta recordar o Despacho 100, o programa naval de 1930, o primeiros grandes estaleiros navais de aço a sério (CUF, Arsenal do Alfeite, Viana do Castelo, Mondego), modernização e desenvolvimento dos portos de Portugal, Cabo Verde, Angola e Moçambique, o reatar dos levantamentos hidrográficos de Portugal e colónias nos anos 30, que não eram feitos desde o 5 de Outubro.
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